Avião bimotor cai no Recife e mata 16 pessoas. Há indícios de falha técnica

14/07/2011 - O Estado de Sao Paulo, Angela Lacerda / RECIFE e Nataly Costa / SÃO PAULO

Problemas foram relatados 55 segundos após a decolagem; piloto ainda tentou retornar à pista e conseguiu desviar de área residencial

Dezesseis pessoas morreram na queda de um bimotor da Noar Linhas Aéreas no início da manhã de ontem, no bairro de Boa Viagem, zona sul do Recife. O voo 4896, que faria a rota Recife-Natal-Mossoró, caiu pouco mais de três minutos após decolar, às 6h51. Há indícios de que ocorreu uma falha técnica. A empresa cancelou quatro voos após o acidente.

Os problemas começaram imediatamente após a decolagem. Aos 55 segundos de voo, o piloto informou à torre de controle que a aeronave tinha problemas e voltaria ao aeroporto. Dois minutos depois, avisou que não conseguiria voltar e tentaria um pouso de emergência na Praia de Boa Viagem. Às 6h54min18s, sumiu do radar.

O pedreiro Gelson da Costa, de 44 anos, que trabalha em um galpão a poucos metros do local onde o avião caiu, relatou o acidente. "Ele vinha em nossa direção, voando bem baixinho... A gente pensou que ia cair em cima", contou. "A gente saiu correndo, mas ele fez uma manobra e caiu antes, desviando dos prédios." A aeronave - um L-410 UVP E-20 da empresa checa LET Aircraft - caiu de bico a 100 metros do mar e pegou fogo.

Causas. Irmão do copiloto Roberto Gonçalves, de 55 anos, o empresário Jairo de Souza Gonçalves disse já ter ouvido queixas do irmão sobre a aeronave - Roberto teria dito que todos os L-410 estavam com perda de potência ao decolar e teriam passado três meses em manutenção.

A Noar informou, à noite, que "todas as suas aeronaves estão em boas condições" e a que se acidentou havia passado por checagem há três dias e só houve troca de peças. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) disse que não havia problemas nem com pilotos nem com a aeronave.

Para o especialista em segurança de voo Roberto Petarka, chama a atenção o fato de os destroços terem ficado concentrados em uma área pequena. "Isso indica perda de sustentação. A velocidade deveria ser tão baixa que o avião despencou." Segundo ele, não é possível adiantar se houve apenas falha mecânica. "Quando o piloto decide retornar à pista, precisa ter altura. Ou houve uma avaliação ruim ou o problema se agravou."

O Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa 2) recuperou as caixas-pretas e vai apurar as causas do acidente, ao lado da Polícia Civil. O inquérito deve ser concluído em até 30 dias. /COLABOROU RENATO MACHADO