Latam tem interesse em edital da TAP

25/06/2012 - Valor Econômico, Alberto Komatsu

Um ano e dez meses após o anúncio do início de sua criação, em agosto de 2010, a Latam, holding da união entre a chilena LAN e a TAM Linhas Aéreas, foi criada na sexta-feira, seis meses após a estimativa inicial de conclusão do negócio, até o fim do segundo semestre do ano passado. Ao Valor, dois dos principais executivos da Latam sinalizaram que não há mais tempo a perder. Há interesse em analisar o edital de privatização da portuguesa TAP, embora o foco nos próximos dois ou três anos seja a integração das duas companhias.

A Latam pretende concluir, em seis meses, o principal eixo de sua operação: otimização da malha de voos de LAN e TAM. Uma forma de expandir a operação com mais liberdade será a possibilidade de a nova empresa permanecer independente, sem aderir a uma aliança global aérea.

"Nos interessa olhar qualquer negócio. Podemos analisar [o edital da TAP]. Mas no curto prazo não há condição de absorver nada, estamos focados na construção da Latam e na obtenção das sinergias", diz o presidente do conselho de administração da Latam, Mauricio Amaro. "Temos um acordo de nos concentrar, nos próximos dois ou três anos, no projeto Latam, o que não significa que, especialmente para a TAM, a TAP não seja um competidor importante, que transporta uma quantidade importante de passageiros entre o Brasil e a Europa", acrescenta o presidente-executivo da companhia, Enrique Cueto.

Com isso, os executivos mostram que a Latam, maior grupo aéreo do mundo em valor de mercado, de US$ 13,2 bilhões, segundo a Bloomberg, nasce com vocação para competir além do continente latino-americano. International Airlines Group (fusão entre a British Airways e a espanhola Iberia), Avianca-Taca e Qatar Airways já demonstraram interesse pela TAP.

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 A LAN integra a aliança global aérea One World e a TAM pertence à Star Alliance. A Avianca-Taca anunciou sua entrada na Star Alliance. Como o tribunal antitruste chileno (TDLC) determinou que Latam não pode integrar a mesma aliança que Avianca-Taca, o mercado já dava como certa a entrada da Latam na One World. Cueto, no entanto, diz que há várias possibilidades. A Latam tem 22 meses para definir essa situação.

Segundo Cueto, a Latam deve ter liberdade para oferecer mais opções de voos, por meio de acordos bilaterais, principalmente com empresas dos Estados Unidos e da Europa. Uma das possibilidades seria a LAN abrir mão de integrar a One World e a TAM permanecer independente, já que terá de sair da Star Alliance. Latam, então, ficaria livre da limitação de não poder fazer parcerias com empresas aéreas de alianças diferentes.

LAN e TAM continuarão com suas marcas independentes e os aviões, com as pinturas de cada bandeira. Os programas de milhagem começam a ser unificados a partir do dia 27. As duas empresas pretendem ter até três modelos diferentes de aviões para voos de longo curso, entre modelos da Boeing e da Airbus. A LAN tem encomendas do aviões 787, da Boeing, e pretende operá-lo no Brasil. A TAM tem interesse no Airbus A350 e opera atualmente o 777, em voos transcontinentais.

"Nunca as duas empresas estarão 100% integradas. Essa não é uma fusão tradicional", diz Cueto. Há sobreposição, diz, apenas em 3% da malha de voos das duas companhias. A sinergia entre as duas deverá produzir economia anual entre US$ 600 milhões e US$ 700 milhões a partir do quarto ano de operação.

A criação da Latam foi selada, na sexta-feira, após a conclusão da oferta pública de permuta de ações entre TAM e LAN. A relação de troca foi foi de 0,9 BDR da LAN para cada ação da TAM. BDRs são papéis de empresas estrangeiras negociadas na bolsa brasileira. O nível de adesão dos acionistas da TAM correspondeu a 95,9% dos papéis da companhia. O patamar mínimo necessário era de 95% (a primeira tentativa de leilão de permuta de ações, há dez dias, havia alcançado 94,4%). Segundo a TAM, 99,9% dos acionistas concordaram com o cancelamento de registro de companhia aberta, no Brasil.

Como restaram no mercado 4,1% de ações da TAM, as BDRs daLAN só deverão ser negociadas quando o resto dos papéis da TAM saírem de negociação. A TAM estima que isso deve acontecer até quinta-feira.

Na sexta-feira, a agência de classificação de risco Fitch revisou as notas de crédito da LAN e da TAM. O rating em moeda estrangeira atribuído à Latam é"BB+", abaixo da nota "BBB" anteriormente atribuída à LAN. Já no caso da TAM, a operação levou a Fitch a aumentar a nota de crédito,de "B+" para "BB". Em sua avaliação, a agência considera a Latam uma continuidade da LAN e a TAM uma afiliada da holding.