Gargalos podem sufocar aeroportos?



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Obras atuais podem não atender a demanda
Temor é que complexos brasileiros não tenham condições para acompanhar crescimento por procura
Há aproximadamente dois meses de um dos mais importantes eventos esportivos: a Copa do Mundo de Futebol 2010, a África corre para ajustar os últimos preparativos para receber o evento. Neste cenário, muitos se perguntam se o Brasil – que sediará o mundial em 2014 – conseguirá suprir todos os gargalos de infraestrutura e mobilidade em apenas quatro anos.
Quando a questão remete-se ao setor aeroportuário, muitos especialistas acreditam que – mesmo com os recursos de R$ 8,5 bilhões oriundos do Governo Federal (R$ 3 bilhões anunciados na segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento) – haverá dificuldades em suprir o crescimento da demanda.
O mercado aéreo tem protagonizado um grande salto na economia, com a criação de novas companhias e o uso dos serviços por classes menos privilegiadas. Para se ter uma ideia do tamanho do mercado, nos últimos anos, os aeroportos brasileiros receberam, em média, de 50 a 60 milhões de embarques. Em 15 anos, mantido o atual ritmo de crescimento da procura por viagens aéreas, serão 250 milhões de pessoas utilizando os complexos brasileiros. Apenas durante a Copa, são esperados, pelo menos, 500 mil turistas.
“Não será o caos, mas em determinados aeroportos a demanda estará acima da capacidade. Não estamos vendo uma calamidade, mas um desconforto, com situações difíceis que atingirão os passageiros”, argumenta Ronaldo Jenkins, diretor técnico do Snea (Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias).Atendimento aos passageiros precisa ser priorizado
Segundo a Infraero, empresa pública responsável pela administração dos principais aeroportos do País, “é verdade que se os investimentos não forem realizados, haverá problemas para atendimento da demanda”. Entretanto, a estatal garante que “esse cenário não é sequer plausível, já que os investimentos estão programados, muitos projetos estão prontos, licitações em andamento e obras já estão em curso”.
Além disso, em comunicado, a companhia destaca que “assim como se previu caos nos aeroportos na alta temporada 2009/2010, em seu lugar o que se viu foram voos com 84% de pontualidade”. Já em relação à Copa 2014, “a expectativa, baseada nas experiências de outros países, é que ocorra um crescimento de 10% no movimento de passageiros nos dois meses relativos ao período do evento, sendo tal situação já considerada nos planejamentos”.
Neste sentido, Jorge Eduardo Leal Medeiros, engenheiro aeronáutico e professor de transporte e aeroportos da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), explica que é preciso aceitar que os complexos aeroportuários estarão sobrecarregados durante o evento.
“Haverá desconforto? Sim. O necessário é descobrir qual o nível aceitável. Pois, se houver empreendimentos para atender a demanda do mundial, posteriormente, teremos aeroportos sub-utilizados. E isso, não faz sentido algum”, argumenta.
E prossegue: “é necessário um aumento na capacidade, mas não para atender uma demanda excepcional – que acontecerá por apenas dois meses -, e sim, para suprir a necessidade diária do País”.