Aviação: Brasil dá mais um passo “verde”



AddThis Social Bookmark Button
Empresas se unem para impulsionar biocombustíveis
Setor responde por 2% das emissões de CO2 na atmosfera
O mercado aéreo brasileiro tem crescido a passos largos. O País tem protagonizado a criação de novas companhias e o uso dos serviços por classes menos privilegiadas. Com isso, nos últimos anos, os aeroportos brasileiros receberam, em média, de 50 a 60 milhões de embarques. Em 15 anos, mantido o atual ritmo de crescimento da procura por viagens aéreas, serão 250 milhões de pessoas utilizando os complexos brasileiros.
Para dar conta de toda esta demanda de forma mais sustentável, diversos segmentos da economia têm buscado soluções que reduzam a emissão de poluentes pelas aeronaves utilizadas para a movimentação destes passageiros, como a adoção de combustíveis mais limpos.
Neste sentido, algumas organizações que atuam no mercado brasileiro divulgaram, nesta semana, a criação da Abraba (Aliança Brasileira para Biocombustíveis de Aviação). Conforme anunciado, o objetivo da ação é promover iniciativas públicas e privadas que busquem o desenvolvimento e a certificação de biocombustíveis sustentáveis para o mercado de aviação.
“Assim como aconteceu com o etanol no mercado brasileiro, queremos incrementar os projetos relacionados à biocombustíveis para aviação para impulsionar programas nessa área e, consequentemente, seu uso”, explica Guilherme Freire, diretor de estratégias e tecnologias para meio ambiente da Embraer, uma das empresas que compõe o grupo.
Segundo Alfred Szwarc, consultor de emissões e tecnologia da Unica (União da Indústria de cana-de-açúcar), “sem dúvida, a formação da Abraba é um passo importantíssimo que cria condições para um avanço na pesquisa e desenvolvimento por combustíveis de aviação com baixa emissão de carbono”.
O executivo destaca ainda que “será um salto qualitativo chegar a um biocombustível que seja sustentável e produzido em escala industrial em um momento de aguda transformação da aviação civil mundial. Mudanças, aliás, em que custos e sustentabilidade entram mais do que nunca na pauta”.
Toda esta preocupação está associada aos altos índices de poluentes emitidos pelo setor aéreo em todo o mundo. Segundo estudos do Painel Intergovernamental de Mudanças no Clima (Intergovernmental Panel on Climate Change – IPCC) da ONU (Organização das Nações Unidas), a aviação civil produz aproximadamente 2% das emissões de dióxido de carbono (CO2). Uma viagem de ida e volta da Europa para o Brasil, por exemplo, corresponde a quase quatro toneladas de carbono lançados na atmosfera.
Além disso, a dependência de combustíveis com origem fóssil é outra preocupação para a entidade. Para se ter uma ideia, apenas nos três primeiros meses deste ano, o mercado brasileiro de aviação consumiu 1,4 bilhão de litros de querosene de aviação. Em todo o ano passado a utilização deste combustível no País totalizou mais de 5,4 bilhões de litros, segundo dados da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).Expertise com etanol pode proporcionar liderança brasileira em biocombustíveis para aviões
Freire detalha que, ao menos a princípio, o mercado de aviação deve adotar ações semelhantes às do Brasil em relação à mistura do etanol à gasolina. “Quando esta questão começou a ser discutida percebemos dois cenários. O primeiro é similar ao que foi feito no País para a adoção de veículos movidos exclusivamente a álcool, adaptando – aos poucos – os motores dos carros. No entanto, fazer isso no mercado de aviação seria muito mais complexo, custoso e trabalhoso”, explica.
E prossegue: “a segunda possibilidade – a mais viável para este mercado – é que as empresas com expertise no desenvolvimento de combustíveis busquem produtos mais limpos que se adaptem aos motores utilizados atualmente. Hoje, o que se busca para o mercado de aviação é algo similar à mistura de 25% de etanol na gasolina. Isso já seria um grande ganho”.
Questionado sobre a possibilidade de vantagem brasileira em relação a expertise do País na criação de combustíveis mais verdes, Freire afirma que nos próximos anos o Brasil poderá conquistar uma posição de liderança em biocombustíveis para o modal aéreo.
A Abraba conta, inicialmente, com a participação de dez entidades: Algae Biotecnologia, Amyris Brasil, ABPPM (Associação Brasileira dos Produtores de Pinhão Manso), AIAB (Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil), Azul Linhas Aéreas Brasileiras, Embraer, Gol Linhas Aéreas Inteligentes, TAM Linhas Aéreas, TRIP Linhas Aéreas e Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar). Segundo Freire, cada instituição atuará em diálogos relacionados à sua área de atuação.
O que já está sendo feito
Esta não é a primeira ação realizada por algumas das empresas citadas acima. A Embraer, a Azul e a Amyris, por exemplo, haviam assinado no ano passado um memorando de entendimento entre si – contando com a participação da General Electric - que visa avaliar os aspectos técnicos e de sustentabilidade do combustível renovável para jatos.
Assim, no início de 2012, os estudos poderão resultar em um voo de demonstração com o combustível em uma aeronave da Azul Linhas Aéreas (todos os jatos da empresa foram fabricados pela Embraer) utilizando motores GE.
Ainda no Brasil, a companhia aérea TAM – que também faz parte da Abraba – promete fazer um voo de teste com um avião da Airbus movido a bioquerosene no segundo semestre deste ano. Será o primeiro do tipo na América Latina.
A companhia anunciou que planeja realizar o voo experimental com um avião sem passageiros que utilizará um combustível que é uma mistura de querosene com um óleo obtido a partir do pinhão manso.
Em âmbito mundial, a KLM saiu na frente e realizou em janeiro deste ano o primeiro voo do mundo com bioquerosene. A operação consistiu em abastecer um dos motores do avião com uma mistura de 50% de biocombustível sustentável e 50% de querosene tradicional. O teste com a aeronave durou uma hora e estava limitado aos arredores Aeroporto de Amsterdã – Schiphol.
Além disso, a Lufthansa deverá se tornar uma das primeiras grandes companhias aéreas a misturar biocombustível com querosene tradicional em voos comerciais. Conforme anunciado, a empresa aérea alemã começará a utilizar a mistura de biocombustível e querosene daqui a dois anos.
Ouça trechos da entrevista com Guilherme Freire, da Embraer, na Rádio Webtranspo