Poltrona de avião está longe da unanimidade

25/10/2010 - Correio Popular (SP)

Problemas relacionados à comodidade das poltronas. De acordo com estudo do Laboratório de Pesquisa Ergo&Ação, do Departamento de Engenharia de Produção da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), esse é o principal motivo da sensação de alívio estampada nos rostos dos usuários ao desembarcar de aeronaves após voos domésticos no Brasil.

Financiada pela Fapesp, Embraer e com apoio da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a pesquisa - desenvolvida em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) - visou simular as condições nos voos domésticos. Liderados pelo professor Nilton Luiz Menegon, os pesquisadores ouviram 377 passageiros e aplicaram questionários em usuários de 40 trechos de voos domésticos efetuados por sete companhias aéreas.

Efetuada entre novembro de 2009 e fevereiro deste ano, a pesquisa mostrou que os assentos, em especial os do meio, são os vilões causadores de desconforto nas viagens. As principais reclamações levantadas são referentes ao pouco espaço para as pernas, a largura do assento, falta de apoio para os pés e apoio compartilhado para os braços.

Utilizando um método inédito no País, os estudiosos filmaram e fotografaram os passageiros durante as viagens e depois transformaram todo o material em animação com bonecos. Com tudo digitalizado, foi possível analisar a movimentação dos passageiros durante o voo. "O diferencial dessa pesquisa é que analisamos todo o processo postural dos passageiros dentro do avião de forma dinâmica", afirmou Marina Fonseca Greghi, doutoranda que participou da pesquisa.

O emprego da técnica em escala real possibilitou demarcar a proximidade entre as poltronas e a falta de espaço para movimentos simples, como cruzar as pernas. Com base nessas medições, foi criada uma escala de 0 a 10, sendo 10 o grau máximo de desconforto. Com nota 9, a poltrona foi criticada por 78% dos entrevistados.


Constrangimentos

Durante o estudo para detectar as causas do desconforto nas viagens aéreas dentro do País, foram filmados 46 usuários com peso, altura e idade variados.

Dentre as atividades realizadas por eles dentro dos aviões, as que mais causaram constrangimentos nos voos foram: repousar e dormir, com 74,65%, alimentar-se (46,06%) e dificuldade para ir ao banheiro (40,63%).

Para o motorista paraibano José Júnior Rocha, de 34 anos, a situação piora em viagens mais longas. De acordo o motorista, que utiliza o transporte aéreo mensalmente, em viagens longas ele chega a sofrer cãibras nas pernas devido à falta de espaço para movimentos.

Já o auditor fiscal Gil Ferreira, de 74 anos, acredita que a situação se agravou com o aumento do número de poltronas nas aeronaves. "Antigamente eram dispostas de duas em duas poltronas. Hoje em dia são três em três e o tamanho do espaço continua o mesmo, não dá pra se mexer", reclamou Ferreira.

Questionada sobre as conclusões da pesquisa, a Gol Linhas Aéreas, por meio de sua assessoria de imprensa, afirmou que para os voos domésticos a empresa possui apenas uma classe com poltronas que seguem o padrão internacional. De acordo com a empresa, cada aeronave possui dez assentos com dimensões superiores. Seis deles, localizados na primeira fileira, são destinados a gestantes e pessoas com deficiência. Outros quatro, próximos à saída de emergência, também podem ser utilizados por passageiros que necessitam de mais espaço, mas que estejam dispostos a efetuar um eventual procedimento de segurança.

Contatadas pela reportagem, a TAM Linhas Aéreas e a WebJet Linhas Aéreas Econômicas não responderam até o fechamento desta edição.