Setor de carga aérea à beira do colapso

18/10/2010 - O Globo

Pivô do escândalo de tráfico de influência na Casa Civil e sem voar para os Correios desde 27 de setembro, a Master Top Airlines (MTA) não é a única empresa de carga aérea em dificuldade no país. Responsável por carregar encomendas dos brasileiros e parte do dinheiro enviado pelo Banco Central aos estados, o setor está em situação complicada. Aviões velhos, falhas de segurança, obstáculos financeiros e falta de documentação são problemas comuns às companhias, não raro envolvidas em fraudes.

Correios e BC são os principais clientes do segmento por necessitarem de ser viços constantes e serem fonte de receita garantida.

Segundo a Anac, cinco das nove companhias domésticas foram proibidas de voar. Entre as quatro com autorização está a MTA, que deveria fazer as linhas de Salvador e Recife para os Correios, mas não decola mais. A inoperância obriga a estatal a contratar emergencialmente espaços nos porões de companhias de passageiros, pagando caro por isso. Só nos últimos três meses, foram gastos R$ 3,3 milhões para substituir as empresas. O serviço é prejudicado, com atraso nas entregas.

- Isso tem um impacto muito forte no esquema operacional - admite o chefe do Departamento de Encaminhamento e Administração de Frota dos Correios, Carlos de Sousa Montenegro.

Na quinta-feira, a Anac proibiu de levantar voo outra contratada dos Correios, a Air Brasil, que faz a linha São Luís-TeresinaBelo Horizonte-São PauloRio. Além de ter problemas em equipamentos, a empresa voava sem autorização e cumpria mais horas de voo do que podia.

Também estão proibidas de levantar voo as cargueiras TAF e Beta (que tinham contratos com os Correios até o fim de 2009) e a Skymaster. Segundo a estatal, em dezembro um avião da TAF bateu num elevador de carga em Guarulhos. Semanas depois, outro avião da empresa bateu numa árvore e fez um pouso forçado em Parintins (AM). Devido aos incidentes, a Anac suspendeu o Certificado de Homologação de Empresa de Transporte Aéreo (Cheta), que precisará passar por nova certificação.

A Beta parou de decolar para os Correios depois que o Ministério Público Federal (MPF) constatou conluio com a Skymaster para fraudar uma licitação.

As duas fizeram um acordo de que quem vencesse subcontrataria a outra, dividindo o dinheiro.

A Anac cassou sua concessão em agosto.

Das companhias com autorização para voar, além das Master Top, sobram a Rio Linhas Aéreas e a Total (também contratadas dos Correios), a Absa e a Variglog. Esta, ex-subsidiária da Varig e vendida a um grupo chinês, também enfrenta problemas financeiros.

A frota das empresas aéreas de carga doméstica com autorização para operar é de 18 aviões, segundo a Anac. Isso não significa, entretanto, que todos estejam operando (os três DC-10 da Master Top, por exemplo, estão parados). A Agência informa também que o volume total de carga doméstica transportada por quilômetro voado subiu 12,45% entre 2001 e 2009, saindo de 513,5 milhões de toneladas para 577,5 milhões de toneladas.

Setor movimenta R$ 1,3 bilhão por ano O setor cargueiro tem movimentado, por ano, ao menos R$ 1,3 bilhão. Só os Correios gastaram, em 2009, R$ 316,19 milhões com as companhias contratadas.

A Infraero, que fatura com as tarifas dos aeroportos, recebeu R$ 572,9 milhões (doméstico e internacional). TAM e Gol obtiveram no primeiro semestre, respectivamente, R$ 242,7 milhões com cargas e R$ 177,4 milhões com "receitas auxiliares", a maior parte cargas.

Para especialistas, a falta de dados concretos dificulta um perfil do setor.

- São empresas amadoras, que abrem e fecham com facilidade e usam aviões velhos, com alto custo com combustível e manutenção - diz o professor de Transporte Aéreo da UFRJ, Respício do Espírito Santo Júnior.

Segundo ele, é preciso aumentar a concorrência e quebrar o monopólio dos Correios na questão da logística.

Ele defende ainda a abertura do mercado às estrangeiras (Fedex, UPS e DHL). Essas companhias, aliás, estão de olho no país e aguardam aprovação do projeto que amplia de 20% para 49% a participação do capital estrangeiro.