Com real forte, estrangeiras apostam em 8 novos voos fora do eixo Rio-SP

31/05/2011 - O Globo, Geralda Doca e Danielle Nogueira

BRASÍLIA e RIO. Está começando no Brasil um movimento de desconcentração de voos internacionais, rumo a outros aeroportos fora do eixo São Paulo (Guarulhos)-Rio (Galeão). Depois das capitais do Nordeste que têm vocação turística, as companhias aéreas, sobretudo estrangeiras, miram outros centros. Oito novas rotas para o exterior, aprovadas recentemente pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) estão prestes a entrar em operação, a partir de Porto Alegre, Brasília, Curitiba e Salvador, com ofertas para fora do país.

Duas companhias estreiam no aeroporto de Brasília: a Pluna, fazendo a rota para Montevidéu, e a Copa, para o Panamá. A portuguesa TAP fará a rota Porto Alegre-Lisboa, que será inaugurada no próximo dia 12, seu décimo destino no país. Da capital gaúcha, será possível também viajar para o Panamá, pela Copa, e para Buenos Aires, pela Aerolíneas Argentinas. Em Curitiba, a Aerolíneas fará novo voo para Buenos Aires. E, de Salvador, haverá uma ligação direta da Condor para Frankfurt.

A American Airlines também aguarda autorização do governo brasileiro para iniciar em Manaus quatro voos diretos para Miami. E a Gol planeja voar para Buenos Aires a partir de Brasília, com escala em Porto Alegre, que já funciona como hub (centro de distribuição de rotas) nos destinos operados pela companhia para América do Sul.

Na rota Porto Alegre-Lisboa, pela TAP, 20 mil reservas

Segundo o professor de Transporte Aéreo da UFRJ Respício do Espírito Santo Jr., a desconcentração de voos é motivada por vários fatores: saturação dos terminais, sobretudo paulistas, o que obriga as companhias a buscarem alternativas, crescimento da economia e da renda dos brasileiros e estímulo do real valorizado às viagens internacionais.

Para ele, mantido o cenário atual e com a política de céus abertos (sem limite de voos para as empresas estrangeiras), a tendência é que o movimento se fortaleça. O professor lembrou que autoridades de países desenvolvidos (Estados Unidos e Canadá, principalmente) intensificaram campanhas no Brasil para captar o turista brasileiro, que “está bem”, enquanto os países desenvolvidos ainda se ressentem da crise financeira internacional. Além disso, os eventos da Copa e das Olimpíadas atraem a atenção do mundo para o país.

A portuguesa TAP é uma das pioneiras nesse processo de desconcentração. Com a inauguração do voo Porto Alegre-Lisboa, a empresa chega à Região Sul, onde ainda não atuava. Serão quatro frequências semanais, e cerca de 20 mil pessoas já fizeram reserva para a nova rota. Um bilhete de ida e volta, se comprado ontem para o fim de junho, sairia a R$1.714, considerando as tarifas mais baixas disponíveis.

- Percebemos que havia mercados importantes que não eram atendidos no Brasil. Estamos analisando, agora, a Região Norte - disse Mario Carvalho, diretor geral da TAP para América do Sul.

Hoje, a TAP tem voos diretos de Lisboa para Rio de Janeiro, São Paulo, Campinas, Natal, Recife, Fortaleza, Salvador, Belo Horizonte e Brasília. Quase 30% do total de passageiros transportados pela companhia no mundo têm o Brasil como origem ou destino.

Até recentemente, só era possível fazer voo direto de Brasília para o exterior pela TAP, pioneira no terminal brasiliense (2007). Em 2009, foi a vez da Delta (Atlanta), e, em 2010, passaram a operar no aeroporto de Brasília American Airlines (Miami), Taca e LAN (Lima), além da TAM, no trecho para Miami.

Os voos saem lotados, disse a empresária Gabriela Berlin, dona de uma agência de viagens em Brasília. Segundo ela, as companhias estão captando passageiros não só da capital, mas também de todo o Centro-Oeste e das regiões Sul e Norte, pois o aeroporto de Brasília é um dos maiores do país em conexões.

- Com aviões um pouco menores (de 94 a 224 lugares) e ocupação elevada, essas companhias inovaram com uma classe executiva mais acessível, que não chega a ser uma Brastemp, mas é muito bacana e está fazendo sucesso.

Para a funcionária pública Eliane Costa, voar direto de Brasília para o exterior, sem ter de fazer baldeação em São Paulo ou no Rio, é uma “facilidade fantástica”. Representa economia de tempo e menos risco de extravio de bagagem:

- Hoje, você gasta cerca de oito horas para chegar a Lisboa, por exemplo. Antes, levava ao menos mais quatro horas.

Segundo o superintendente de Relações Internacionais da Anac, Bruno Dalcolmo, a desconcentração de voos é uma tendência que deve ser confirmada nos próximos anos:

- Já há novos voos pleiteados para cidades como Belo Horizonte, Brasília, Manaus e as capitais do Nordeste. Estas cidades devem se consolidar como pontos de acesso ao mercado brasileiro.

A uruguaia Pluna é uma das que estão apostando na capital federal. No próximo dia 16 de junho, a aérea inaugura a rota Montevidéu-Brasília, seu nono destino no país. Serão cinco frequências semanais. Uma passagem de ida e volta sai a partir de US$299 (cerca de R$480 sem taxas), para viagens iniciadas até o dia 22 de junho.

- O bom momento da economia brasileira, com ganho de renda da população, e o dólar mais baixo favorecem o lançamento de novos voos no Brasil. Queremos fazer de Montevidéu um hub (centro de distribuição de voos) no Cone Sul para os viajantes brasileiros - disse Roberto Luiz, diretor de Vendas e Alianças da Pluna no Uruguai.

Pluna: fluxo de passageiros cresce 82% com novos voos

Em fevereiro, a empresa iniciara o trajeto Belo Horizonte-Montevidéu, que bateu a meta de ocupação em apenas quatro meses. Por isso, a Pluna também vai ampliar as frequências para a capital mineira de seis para 14 voos semanais a partir de outubro. Com a estratégia de descentralização de voos, o número de passageiros transportados pela aérea no Brasil cresceu 82% no primeiro trimestre deste ano, ante igual período de 2010.

Apesar do movimento de descentralização, o professor da Coppe-UFRJ Elton Fernandes destacou que os voos ainda continuam muito concentrados no eixo Rio-São Paulo:

- Esse movimento ainda é muito tímido. Mas as empresas estão experimentando, tentando aumentar a conectividade (ligações entre aeroportos).

Entre os aeroportos que deverão servir de entrada e saída do país, ele aposta em Porto Alegre, devido à tradição de voos para países da América do Sul, e Salvador, um dos principais centros de distribuição de rotas para o Nordeste. Também estão na lista Recife e Confins (Belo Horizonte), além de Brasília.