À venda, TAP é estrangeira que voa para mais cidades brasileiras

13/05/2011 - IG, Marina Gazzoni


Malha forte entre Brasil-Europa é um dos grandes ativos da companhia portuguesa, que será privatizada; TAM pode fazer oferta.

A privatização da TAP trará reflexos diretos no setor aéreo brasileiro. Com uma oferta de voos a partir de nove cidades do País, a companhia portuguesa transportou 1,4 milhão de passageiros entre o Brasil e a Europa no ano passado. A TAP é a companhia estrangeira presente no maior número de destinos brasileiros, posição que será reforçada no próximo mês, quando inicia sua operação em Porto Alegre. Há rumores de que o grupo Latam, formado pela brasileira TAM e a chilena LAN, esteja interessado em adquirir a companhia portuguesa.

A decisão de vender a TAP reflete dificuldades financeiras do País e não da companhia aérea. Embora Portugal esteja em crise, a empresa lucrou 62,3 milhões de euros em 2010, valor equivalente a R$143 milhões na cotação atual. Endividado, o governo português precisou pedir socorro à União Europeia e ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Em troca de um empréstimo de 78 bilhões de euros (R$ 180 bilhões), se comprometeu a privatizar um grupo de estatais, entre elas, a TAP.

A notícia de que a companhia portuguesa está à venda agitou o setor aéreo. Sua rede de conexões com 65 cidades de 31 países da Europa, África, América do Sul e do Norte faz da empresa uma peça fundamental no xadrez entre as aéreas.

Interesse da TAM

Esse alto potencial de conectividade saltou aos olhos da TAM. A companhia evita falar da questão, e se limita a declarar, em nota, que “sempre acompanha a evolução do mercado de aviação, inclusive as fusões e as aquisições no setor”.

Mas o presidente do conselho da empresa, Marco Antonio Bologna, admitiu que a TAM acompanha a privatização da TAP e que aguarda a publicação do edital pelo governo português para se manifestar, em entrevista ao jornal “O Globo” no final de abril.

“Para a TAM seria um ótimo negócio. E para os passageiros brasileiros também”, afirma Nelson Riet, especialista no setor. O motivo é que a aquisição da TAP possibilitaria a TAM firmar uma posição relevante na Europa e impulsionar sua oferta de voos internacionais, com conexão em Lisboa.

A integração de TAP e Trip seria facilitada pela semelhança na frota – as duas operam aeronaves da Airbus – e pelas parcerias comerciais já existentes. TAP e TAM são membros da associação de empresas aéreas Star Alliance e possuem acordos de codeshare (compartilhamento de voos) desde 2007. As parcerias são o primeiro passo para as fusões no setor aéreo. A TAM, por exemplo, praticava compartilhamento de voos com a chilena LAN e com a brasileira Trip antes de anunciar uma sociedade com as empresas.

Disputa com europeias

Enquanto a TAM faz mistério sobre uma eventual proposta pela empresa, a Gol nega que fará uma oferta pela TAP. A possibilidade chegou a ser discutida entre analistas do mercado financeiro como uma oportunidade para a Gol de reagir à fusão de TAM e LAN. Mas, para a empresa, a prioridade é o mercado doméstico. “Não temos interesse na TAP”, disse o diretor financeiro da Gol, Leonardo Pereira.

Na Europa, uma das principais interessadas na TAP é a IAG, que nasceu da fusão entre a Iberia e a British Airways, segundo o jornal Sunday Times. A proximidade da espanhola Iberia com Portugal poderia favorecer o negócio, mas fragilidade da financeira pode ser um entrave. No Oriente Médio, a Qatar Airways também deve entrar na disputa, informou a emissora portuguesa SIC.

A expectativa é que as companhias europeias tentem impedir o avanço de empresas de outros continentes sobre a TAP. “Para elas, uma empresa brasileira ou asiática com um pé na Europa é um perigo”, afirma Riet.

As companhias europeias não estão tão bem posicionadas no Brasil quanto a TAP, mas concentradas nos principais aeroportos do País. A Air France, a Lufthansa e a British Airways, por exemplo, só voam a partir de Guarulhos e do Galeão. A estratégia da TAP de diversificação de saídas a partir do Brasil foi certeira. Em 2010, ela cresceu 25% no Brasil, mais do que a operação internacional da TAM, que se expandiu 16%. Falta saber quem ficará com a fatia desse bolo.