Ônibus e avião aumentam a disputa por passageiros em Joinville

20/06/2011 - A Notícia

Transporte terrestre oferece mais conforto e até milhagem; aéreo aposta na rapidez e redução no preço.

Ônibus e aviões. Há 20 anos, ninguém, acreditaria que um dia eles se tornariam concorrentes. E dizer que os aviões chegariam a transportar quase mais gente que os ônibus seria considerado uma insanidade. Os tempos passaram e muita coisa voou pelos céus e rodou pelas estradas.

Fique atento às vantagens

No ano passado, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) registrou o transporte de aproximadamente 66,7 milhões de passageiros. No mesmo período, o número de desembarques de passageiros no Brasil, por voos regulares, chegou a 65,9 milhões, de acordo com a Infraero (Empresa Brasileira de Infrestrutura Aeroportuária). E os aviões devem tomar a dianteira em algum momento deste ano.
MURAL: você prefere viajar de ônibus ou avião?

Em Joinville, mais passageiros embarcam na rodoviária do que no aeroporto. Mas o movimento deste cresce 12 vezes mais.

A batalha promete ser grande. De um lado, as empresas de ônibus apostam em conforto e muito mimo para atrair os passageiros. Do outro, rapidez e tarifas mais baratas.

Mais mimos para atrair os clientes

Internet wireless, programas de milhas, passagens de brinde e possibilidade de parcelar as compras em até dez vezes sem juros. Viajar de avião pode estar na moda, mas as empresas de ônibus estão atentas às mudanças de comportamento dos passageiros para manterem-se competitivas e atraentes aos bolsos dos clientes.

Segundo o diretor-executivo da Auto Viação Catarinense, Marcelo Pierobom, o público que usa ônibus para viajar quer sentir que é importante para a empresa. Novas estratégias estão começando a ser colocadas em prática.

— Nosso primeiro passo foi lançar um programa no qual o cliente que juntar dez passagens para um mesmo trecho ganha uma de brinde. E agora vamos lançar um cartão de crédito com a marca da Catarinense, com a possibilidade de acumular milhas e de parcelar as compras em até dez vezes —, explica.

O executivo diz que as medidas não foram tomadas devido ao boom das viagens pelo ar no país e sustenta que os principais concorrentes dos ônibus ainda são os carros. A menina dos olhos, garante, é nova classe média, que, com maior poder aquisitivo, consegue fazer seus passeios com mais frequência.

A diretora de marketing da Brasil Sul, Caroline Boiko, argumenta que o passageiro de ônibus preza pelo conforto. A empresa oferece, além de um programa de fidelidade, internet sem fio durante os trajetos, as poltronas possuem descansos para os pés e contam com maior grau de inclinação. Ela diz que a frota relativamente nova e os atrasos mínimos em horários de chegadas e saídas também contam pontos a favor.

— Aqui, temos uma busca contínua sobre como tornar a vida dos passageiros o mais confortável e mais segura possível —, afirma.

Medo da altura

A dona de casa Eli Tavares já viajou muito de avião. Ela reconhece as vantagens do meio de transporte. Porém, ela diz que gosta mais de usar o ônibus.

— Primeiro, porque eu tenho medo de altura. Depois, porque os preços das passagens estão bons e alguns ônibus são bastante confortáveis —, afirma.

Ela preparava-se, na quinta, para enfrentar uma viagem de cerca de 14 horas de duração até a cidade de Cerro Largo, no Rio Grande do Sul. Neste caso, Eli disse que ir de avião não compensava, porque teria de sair de Joinville, fazer uma conexão em São Paulo, para ir a Porto Alegre. De lá, ela precisaria de um novo voo, desta vez, até Santo Ângelo. Depois, seriam mais 60 quilômetros de ônibus até a cidade onde vive sua filha.

— De qualquer jeito, eu passaria sete, oito horas viajando de avião e gastaria muito mais do que viajando de ônibus —, conta.

Rapidez e redução nos preços

As passagens aéreas estão cada vez mais baratas. Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o preço médio caiu 9,53% em comparação a 2010. As pessoas estão ganhando mais e o crédito é farto e com prazos longos. O resultado de tal combinação não poderia deixar de ser outro.

Mais gente circulando pelos aeroportos. Só nos quatro primeiros meses do ano, passaram 57,3 milhões de pessoas pelos terminais administrados pela Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) no País, ou 18,1% a mais do que nos mesmos meses do ano passado . É muita gente de olho na praticidade e na rapidez do transporte aéreo.

Não bastasse isto, há um ingrediente bem local: mais companhias operando em Joinville, com mais destinos. Rio de Janeiro (Santos Dumont e Tom Jobim/Galeão), São Paulo (Congonhas e Guarulhos), Campinas, Criciúma e Porto Alegre. Os números são para comemorar. É um dos terminais com maior crescimento no País.

O superintendente regional da Infraero, Rones Heidemann, está bem otimista. Ele acredita que o movimento só tende a crescer.

— Só nos primeiros 16 dias de junho, nós tivemos mais passageiros do que durante todo o mês de junho de 2010 —, conta.

Heidemann argumenta que os problemas de infraestrutura do local não impedem que o fluxo aumente e salienta que as reformas que estão em fase de execução conseguirão dar conta da demanda crescente.
— O estacionamento está sendo ampliado e um dos nossos principais problemas, que é a questão de espaço da sala de embarque, também está sendo resolvido. Com a obra de ampliação, a sala de embarque terá o dobro de assentos que tem hoje —, alega.

Medo das estradas

Para o engenheiro Edson Dearo e o economista Gilberto Couto, que embarcaram na sexta no mesmo voo para São Paulo, cidade onde moram, o tempo de espera e os atrasos nos voos não desanimam os planos de continuarem viajando somente de avião. Para Couto, a infraestrutura do aeroporto é boa se comparada com a de outros terminais que visita frequentemente e lembra que as condições das estradas brasileiras torna perigoso o percurso de carro ou ônibus.

Dearo também não vê grandes problemas na estrutura oferecida em Joinville, e diz que “nos aeroportos de São Paulo, por exemplo, é sempre uma loucura”. A questão que mais o incomoda, em Joinville, são os frequentes atrasos devido ao nevoeiro. O voo deles estava marcado para as 12 horas, mas o engenheiro acreditava que dificilmente conseguiriam decolar antes das 15 horas.