Balanços de TAM e Gol têm rotas opostas

15/08/2011 - Valor Econômico

A comparação dos balanços do segundo trimestre das duas maiores empresas aéreas do país, divulgados na semana passada, mostra que o desempenho da TAM e da Gol foram opostos no período tradicionalmente mais fraco para a aviação comercial.

Enquanto a TAM reverteu prejuízo de R$ 174,8 milhões para lucro de R$ 60,3 milhões na comparação anual, a Gol multiplicou por sete suas perdas, ao divulgar prejuízo líquido de R$ 358,7 milhões de abril a junho.

Na sexta-feira, os papéis das duas companhias registraram performances diferentes. As ações da Gol recuaram e as da TAM avançaram..

“A guerra tarifária no mercado doméstico tem um pouco de influência. A TAM soube administrar melhor a demanda por viagens a negócios numa época de baixa temporada”, afirma um especialista do setor aéreo, que pediu para não ser identificado.

O desempenho da receita com passageiros em viagens domésticas das duas empresas também foi distinto. Na TAM, o resultado foi de R$ 1,47 bilhão, um crescimento de 3,1% em relação ao segundo trimestre de 2010, quando a empresa gerou vendas de R$ 1,42 bilhão.

Na Gol, a receita com passageiros no segundo trimestre ficou em R$ 1,46 bilhão, diante do R$ 1,51 bilhão do mesmo período do ano passado, um recuo de 3,5%.

“É o mercado internacional que faz a diferença. Tem crescido o número de brasileiros que fazem viagens de longo curso com o dólar desvalorizado. E a Gol só opera na América do Sul”, acrescenta o especialista.

A receita de passageiros da TAM no mercado internacional somou R$ 865,4 milhões, o que representou uma expansão de 18,2% na comparação com o mesmo período de 2010.

A Gol teve receita na América do Sul de R$ 105,7 milhões no segundo trimestre deste ano, diante dos R$ 77,4 milhões de abril a junho do ano passado, o que representou um crescimento de 36,5%.

A receita com passageiros no mercado internacional da TAM foi de R$ 865,4 milhões, com expansão de 18,2% ante os R$ 732,1 milhões do segundo trimestre de 2010.

“O mercado internacional da TAM acaba subsidiando a operação doméstica, depois que o resultado é consolidado”, afirma um analista do setor aéreo, que pediu anonimato.

Segundo essa fonte, no segundo trimestre a TAM teve melhor desempenho que a Gol na gestão de tarifas nos horários fora de pico. Isso porque a TAM tem mais canais de vendas de passagens, com o Multiplus e a rede TAM Viagens, com 100 lojas no país.

“A Gol melhorou a taxa média de ocupação dos aviões, mas o yield [valor que o passageiro paga por quilômetro transportado, referência para reajuste de tarifas] caiu”, diz o analista.
A Gol anunciou na sexta-feira um programa de recompra de até 10% das suas ações preferenciais que estão no mercado. A ideia da empresa é “maximizar a criação de valor para os acionistas em razão da cotação atual”. Segundo a Gol, os papéis serão mantidos em tesouraria para alienação ou cancelamento, sem redução de capital.

“Temos um ano para a operação, mas não decidimos ainda quando ela será realizada”, disse o vice-presidente de finanças da Gol, Leonardo Pereira. Ele também preferiu não estimar o valor que a empresa estaria disposta a desembolsar.

O presidente da Gol, Constantino de Oliveira Júnior, espera a aprovação da compra de 100% do capital da Webjet pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) “nas próximas semanas”.
Ele indicou que a negociação, anunciada em 11 de julho, deverá ser concluída no trimestre, prazo estimado para a Gol incorporar o balanço da Webjet.

“A dívida da Webjet não vai alterar o índice de alavancagem da Gol”, respondeu Constantino, ao ser questionado se os R$ 214,7 milhões de dívida da Webjet que a Gol terá de assumir poderiam dificultar a reversão de perdas. A Webjet foi avaliada em R$ 310,7 milhões, sendo R$ 96 milhões de desembolso.

Fonte: Valor Econômico, Por Alberto Komatsu