Grupo holandês lança no Brasil projeto de voos particulares ao espaço

26/11/2011 - R7, Eduardo Marini

A partir de 2014, empresa vai comercializar "passeio" de uma hora por R$ 180 mil

A Terra recebeu o seu habitante número sete bilhões dias atrás. Outros bilhões de humanos, como se sabe, passaram pelo planeta mas não estão mais por aqui. 

De todos esses, vivos ou mortos, apenas 500 tiveram a oportunidade de viver um momento encantado: romper a barreira da atmosfera em uma aeronave, subir até o espaço, flutuar na ausência da força da gravidade e, de lá, ver como a Terra é linda e azul. Esses 500 eleitos pelo destino são os astronautas das missões oficiais e governamentais realizadas do início da corrida espacial até hoje.

Há, no entanto, uma novidade relevante flutuando no espaço: a partir de 2014, você, nobre amigo, ou qualquer outro cidadão, poderá entrar para essa galeria de privilegiados. Mas não a serviço de um governo, e, sim, como um astronauta da iniciativa privada.

Você se tornaria um dos primeiros cidadãos do mundo a romper os limites do espaço numa missão organizada por um grupo particular.

Para isso, o candidato vai precisar de alguma coragem, um pouco de espírito de aventura, da saúde em dia, de um pouco de tempo disponível para o treinamento e... U$ 95 mil, ou cerca de R$ 180 mil, disponíveis para gastar na brincadeira apaixonante. 

O projeto, o SXC – Space Expedition Curaçao, criado por empresários e astronautas experientes, administrado a partir da cidade holandesa de Amsterdã e com base de operações na bela ilha de Curaçao, no Mar do Caribe, foi lançado no Brasil na noite desta sexta-feira (25), em São Paulo.

Apesar do preço para lá de salgado, como a rigor não poderia deixar de ser em projetos como este, o SXC, com seu apelo absolutamente encantador, tem tudo para marcar época.

O ponto central do projeto é a X-Cor Lynx, uma aeronave projetada para carregar apenas duas pessoas: o piloto e, ao lado dele, como copiloto, a pessoa que pagou pela aventura de ser um astronauta de primeira viagem.

A X-Cor Lynx incorporou soluções de tecnologia para permitir que o novo aventureiro retire as maiores emoções possíveis da experiência de ir e voltar ao espaço em uma hora de jornada.

O vidro da cabine, enorme e panorâmico, permite visões impressionantes da Terra e do espaço.

A aeronave é preparada para planar com toda a segurança.

Seus quatro poderosos motores a jato podem ser ligados e desligados a qualquer momento que o piloto necessite retomar o voo por propulsão.

Ao contrário das primeiras naves e de ônibus espaciais como Discovery e Columbia, a Lynx não se desprende de foguetes transportadores depois de seu lançamento, não precisa de porta-aviões para qualquer manobra e tampouco faz aterrissagens no mar, com módulos separados, no retorno da expedição.

Ela vai decolar de uma pista especialmente preparada no aeroporto internacional de Hato, na ilha de Curaçau, para voos de uma hora. De acordo com idealizadores do projeto, ela teria capacidade de fazer 5 mil dessas jornadas.

Nessas viagens espaciais, a Lynx romperá a barreira do som (1.234,8 km/h) pela primeira vez com apenas um minuto de voo após a decolagem e atingirá a velocidade máxima de subida (três vezes a velocidade do som, ou espantosos 3.704,4 km/h) aos três minutos de trajeto.

Aos 58,5 km de subida, os motores são desligados e a aeronave continua a subir na força residual, no “embalo” dos propulsores.

O pico da jornada está a 103 km de altura, já fora da atmosfera e no ambiente do espaço (a divisão entre a atmosfera e o espaço é convencionada em 100 km de altura). 

A partir deste ponto, por quatro a seis minutos, piloto e copiloto flutuam e passam por outras experiências rápidas sem a G-Force, ou seja, a força da gravidade que, na Terra, puxa tudo para o chão.

A partir daí, com os motores desligados e Lynx planando, começam a descida e o retorno à mesma pista de onde a nave decolou.

Antes disso, alguns círculos e flutuações, para que o astronauta de primeira viagem se divirta ainda mais.

Após 30 a 40 minutos de um delicioso voo de descida sem motor, conhecido no meio como “flutuar nas asas de um anjo”, a Lynx, uma hora depois da partida, aterrissa no Spaceport do aeroporto de Curaçao. 

A descrição da viagem feita pelos astronautas criadores do projeto e piloto das naves é ainda mais emocionante.
 

Foto: Divulgação/SXC

Vamos a ela:

Decolagem - A Lynx simplesmente sai da pista alongada do aeroporto Hato, em Curaçao. Você estará sentado ao lado do piloto, passando por cima da checklist de decolagem. Os quatro motores são iniciados. Sua viagem espacial começou.

Primeiro minuto – A barreira do som é quebrada pela primeira vez e os integrantes sentem o impulso poderoso tão familiar a pilotos de aviões a jato e de carros de Fórmula 1. Antes que o novato perceba, a Lynx estará acelerando incrivelmente rápido na pista longa. A paisagem nos dois lados, que inclui o belo mar do Caribe, se transforma numa imensa massa verde-azulada. E então você vai para cima, rápida e acentuadamente, em direção ao céu. A enorme cúpula transparente da aeronave oferece uma vista espetacular, incomparável. Em um minuto, você estará quebrando a barreira do som pela primeira vez.

Terceiro minuto - Acelerada de forma magnífica por seus quatro motores a jato, a Lynx está rápida como uma bala. A visão do azul brilhante do mar do Caribe é inigualável, rara, indescritível. Ilhas do tamanho da Holanda se transformando, ao olhar, em pequenos pontos. E aí você atinge Mach 3, ou seja, três vezes a velocidade do som. Uma raridade que nem mesmo um experiente piloto de um caça F16 teve o prazer de desfrutar.

Na subida, do km 58,5 ao km 103 – A uma altitude de 58,5 km, o piloto desliga os motores. A curva da parábola do voo começa a ser feita e a tripulação experimenta entre quatro a seis minutos sem gravidade. A partir dos 100 km de altura, a fronteira oficial do espaço, o ambiente externo é completamente preto, apesar do sol. Neste ponto, as curvas completas da Terra são claramente visíveis. A tripulação localiza claramente o trecho que vai do Estado americano da Flórida até o Brasil, com o deslumbrante Caribe no centro.

Deslizando para trás, sobre "as asas de um anjo" – Após o ponto alto, entre 100 km e 103 km, a depender das condições gerais, a volta para a Terra, flutuando, é iniciada. A uma altitude de 60 km, a nave lentamente começa a se transformar em um planador. A cerca de 10 km do chão, a Lynx começa a perder velocidade para pousar. Durante essas manobras, o astronauta de primeira viagem vai experimentar, por alguns segundos, uma pressão de 4,5 G, ou seja, uma força 4,5 vezes superior àquela que a gravidade exerce sobre as coisas na Terra. Isso só costuma ocorrer com pilotos de caças a jato. Por isso a preparação anterior é necessária. Após um longo tempo de voo livre, “flutuando nas asas de um anjo”, a Lynx pousa no spaceport do aeroporto de Curaçao como um ônibus espacial. Tudo isso terá consumido uma hora.

Um sonho maravilhoso, enfim. Mas o que se deve fazer, afinal, em caso de interesse?

O projeto oferece dois programas. O primeiro, batizado de Astronauta Fundador, terá cem pessoas, entre eles a modelo holandesa Doutzen Kroes e o top DJ Armin van Buuren.

Esses clientes terão alguns mimos exclusivos, uma missão de formação complementar e uma estadia de três noites em um hotel de luxo em Curaçao.

Preço: U$ 95 mil (cerca de R$ 180 mil) à vista até sete dias após a assinatura do contrato. Os astronautas desse projeto começarão a voar em 2014. O primeiro, um sujeito que certamente entrará para a história como o primeiro astronauta privado do mundo, será escolhido por sorteio.

Quando todos os clientes desse programa tiverem ido ao espaço, serão iniciadas as jornadas do segundo lote, o Astronauta do Futuro.

Eles também terão três noites nos mesmos hotéis de luxo em que a turma inicial foi abrigada. A ordem de voo, neste caso, será definida pelo número do contrato.

Preço: 95 mil dólares, com 50 mil pagos até sete dias após a assinatura do contrato e os US$ 45 mil restantes encaixados antes do voo, marcado para ocorrer entre 2014 ou 2015.

Para entrar na página de inscrição do programa (em inglês), clique aqui.

Os representantes do Space XC no Brasil são Fernando Batelli (fernando@cirobatelli.com.br) e Vitor Lozetti (vitor@lozetti.com.br).

A turma do projeto parece realmente empolgada.

A reportagem do R7 trocou informações, e-mails e considerações com um dos membros do time, a holandesa Nathalie Streng, da equipe de gerentes do projeto.

No final de seus e-mails, após o endereço, Nathalie não faz por menos:

- The Netherlands (Holanda). Planet Earth.

Tradução: Planeta Terra.