Maior oferta de voos deve levar ao menos 2 anos Obras de grande porte só após este período

12/02/2012 - O Globo

Cleide Carvalho
cleide.carvalho@sp.oglobo.com.br

SÃO PAULO. A concessão dos aeroportos de Guarulhos e Viracopos, em São Paulo, e Brasília poderá melhorar o conforto dos passageiros, mas não significará uma oferta maior de voos regulares nos próximos dois anos. Pelo contrato fechado com as concessionárias, apenas em 2016 os três aeroportos poderão aumentar o número de pousos e decolagens por hora, com maior eficiência no uso das pistas e redução da distância entre um avião e outro, que passará de cinco milhas para três. Campinas passará dos atuais 26 para 67; Guarulhos, de 44 para 58; e Brasília, de 45 para 67. Para a Copa, os voos terão de ser charters, fora dos horários mais movimentados.

— Haverá um ganho de eficiência com redução de filas no check-in, mais agilidade na entrega de bagagens e mais facilidade de estacionamento, por exemplo. Também devem ser reduzidas as filas na Receita e na Aduana — diz Anderson Ribeiro Correia, do Departamento de Transporte Aéreo do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA).

Correia lembra que a gestão da Infraero era nacional. Para ele, os aeroportos com gestão descentralizadas são mais eficientes.

Um estudo sobre produtividade e eficiência de aeroportos mostra que o internacional de Guarulhos operava em 2007 com 111 movimentos por funcionário, bem longe dos 741 movimentos na América do Norte, considerado um padrão alcançável pelo Brasil. A arrecadação com tarifas nos voos internacionais, por passageiro, era de US$ 36, acima dos US$ 35,4 do aeroporto de Nova York. Um Boeing parado dez horas pagava em Guarulhos US$ 12 de taxa de permanência, mais do que o valor pago pelas aéreas em Paris, Londres e Frankfurt e abaixo apenas do aeroporto de Nova York, o mais caro.

Na primeira etapa de metas das concessionárias, há compromissos de aumentar os pátios de aeronaves, os terminais para passageiros, fingers e vagas de estacionamento, por exemplo. O prazo é de 22 meses. Para alguns especialistas, faltará tempo hábil para obras de grande porte. Em alguns casos, podem prevalecer os chamados “puxadinhos”.

Apenas depois deste período de dois anos é que começarão as obras de maior porte, com construção de pistas e áreas de taxiamento, que devem ser acompanhadas por aumento de pessoal e tecnologia de tráfego aéreo.

Elton Fernandes, do Núcleo de Estudos em Tecnologia, Gestão e Logística da UFRJ diz que o maior incremento estará na capacidade de gestão da iniciativa privada.

— Há um problema de circulação dentro desses aeroportos e as concessionárias deverão fazer um novo lay-out para ocupar melhor os espaços. Além disso, vai facilitar o diálogo com as companhias aéreas, pois as concessionárias não vão querer perder voos para outros aeroportos.

Carlos Ebner, diretor no Brasil da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata) — que representa 240 aéreas —, diz que o perigo é as concessionárias não cumprirem os compromissos e aumentarem tarifas operacionais:

— Nos aeroportos modernos, 70% das receitas devem vir de áreas comerciais. As tarifas correspondem a 30%.

Pelo contrato, a Agência Nacional de Avião Civil pode interferir e regular sempre que houver abuso nas tarifas.