Aeroporto da Pampulha quer ampliar capacidade de operação

05/05/2012 - Estado de Minas

Às vésperas de completar 80 anos, aeroporto tem projeto para ampliar capacidade para 2,2 milhões de passageiros por ano, mas esbarra na reação de vizinhos
Tiago de Holanda


(Rodrigo Clemente/Esp. EM/D.A Press) 

A grande planície apresentava boa visibilidade, mas estava coberta pelo mato e seu solo era pantanoso. Por isso, a bravura dos dois tenentes de Aviação do Exército impressionou seus colegas de farda. Em fevereiro de 1933, José Sampaio Macedo e Nelson Freire Lavenère-Wanderlei pousaram naquele terreno selvagem pilotando um avião pequeno, do tipo Waco C.S., de dois lugares e sem cabine. Testavam o local escolhido para a construção do aeroporto de Belo Horizonte, que veio a ser inaugurado no mesmo ano.

O aeroporto da Pampulha, como ficou conhecido, em referência à região onde se estabeleceu e à lagoa que o margeia, foi o principal ponto de chegada e partida de aviões de Minas Gerais durante sete décadas, até perder o título para o Aeroporto Internacional Tancredo Neves, maior e mais moderno, situado em Confins, na Região Metropolitana da capital. Se o Pampulha chegou a receber 3 milhões de passageiros por ano, hoje não passa dos 750 mil. Prestes a completar 80 anos em 2013, planeja se expandir, mas enfrenta a oposição de moradores de seu entorno.

Em 2011, o aeroporto de Confins acomodou 9.534.987 passageiros, 12 vezes mais que os 793.305 passageiros recebidos pela Pampulha, de acordo com os números da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero). A administração do aeroporto menor defende que ele atinja sua capacidade total de 2,2 milhões de passageiros anuais. “As empresas que já operam lá – Trip e Passaredo – têm interesse em aumentar a quantidade de voos, enquanto outras empresas querem entrar”, revela o superintendente da Infraero responsável pela Pampulha, Silvério Gonçalves.

A Infraero espera que a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) aprove, nos próximos meses, nova regulação permitindo que o aeroporto atue no limite de sua capacidade. “Estamos batalhando por isso”, enfatiza Gonçalves. Presidente da Associação Amigos da Pampulha, Flávio Campos é contrário à expansão. “Ela vai causar transtornos no trânsito da vizinhança, intensificar a poluição sonora e atmosférica produzida pelas aeronaves e aumentar o risco de acidentes”, prevê Campos.

O superintendente da Infraero na Pampulha rebate as críticas. “Não haveria qualquer transtorno”, afirma. Segundo ele, o barulho das aeronaves não atrapalharia o sono de ninguém, já que não pode haver voos comerciais na Pampulha após as 22h. Além disso, é quase insignificante a probabilidade de ocorrerem acidentes. “Com mais aviões trafegando, o risco seria maior, mas ainda assim seria muito baixo. Hoje, os procedimentos de pouso e decolagem são muito controlados. No mundo todo há vários aeroportos em regiões densamente povoadas”, argumenta.

Campos não se convence. Ele, que tem 65 anos, reside há três décadas no bairro Enseada das Garças, próximo à Lagoa da Pampulha, e se lembra de quando o aeroporto chegou a receber 2,97 milhões de passageiros em 2003 e 3,2 milhões em 2004, antes de a maioria dos voos serem transferidos para Confins, a partir de 2005. “Era um inferno. A cada dez minutos, passava um avião em cima das nossas cabeças”, descreve.

Incômodos

Atualmente, apesar de receber somente aeronaves de pequeno ou médio porte, que não costumam carregar mais de 70 pessoas, o ruído ainda incomoda. “Os aviões passam em cima do meu apartamento. A gente está vendo TV e não dá para ouvir, tem que esperar o avião passar. Atrapalha um pouco, mas a gente acostuma, né?”, diz Diocésio Reis, de 79 anos, morador da região da Pampulha desde 1951.

Apesar do importúnio, Diocésio lembra com carinho da época em que trabalhou no aeroporto, entre 1951 e 1983. Foi despachante e, depois, supervisor de aeroporto de três empresas de aviação, duas delas já extintas: Vasp e Varig. “Por aqui só havia mato. Para chegar ao aeroporto, vínhamos de ônibus ou bonde. Os ônibus eram muito velhos e não aguentavam subir a Avenida Antônio Carlos. Ali na altura do Corpo de Bombeiros, os passageiros tinham que descer e seguir a pé”, relata.

As memórias de Diocésio fazem parte do livro Aeroporto da Pampulha – BH nas asas do progresso, editado pela Infraero em 1997 e escrito por Lígia Maria Leite Pereira e Maria Auxiliadora de Faria. A obra revela que o aeroporto só teve seu funcionamento suspenso em 1954, quando a barragem da lagoa se rompeu e as águas inundaram as pistas e demais instalações do local.

O aeroporto começou a funcionar com a denominação oficial de Destacamento de Aviação e atendia apenas voos do antigo Correio Aéreo Militar, pertencente ao Exército. Os aviões que pousavam lá haviam partido do Rio de Janeiro e seguiam em direção a Fortaleza. Apenas em 1936, o governo estadual foi autorizado a conceder à extinta Panair do Brasil S/A o direito de explorar comercialmente a linha de comunicação aérea entre Belo Horizonte e o Rio de Janeiro. O primeiro voo comercial foi feito em 1937, em um avião bimotor, com capacidade para apenas dois tripulantes e seis passageiros.

LINHA DO TEMPO

1933 > O aeroporto é criado para atender voos do antigo Correio Aéreo Militar, que pertencia ao Exército, e era uma das escalas entre Rio de Janeiro e Fortaleza.
1937 > Primeiro voo comercial, realizado pela extinta Panair do Brasil S/A, ligando Belo Horizonte ao Rio de Janeiro.
1954 > A barragem da Lagoa da Pampulha se rompe e inunda pistas e outras instalações do aeroporto.
1955 > Em um inusitado acidente, um avião com 26 passageiros decolava da Pampulha quando bateu em uma vaca que estava na cabeceira da pista.
1961 > A pista do aeroporto foi reformada e passou a teras atuais dimensões de 2.540 metros de comprimento e 45 metros de largura.
2004 > O aeroporto foi rebatizado para Carlos Drummond de Andrade, em homenagem ao poeta mineiro.
2005 > O número de voos anuais da Pampulha foi reduzido para 40% da quantidade de 2004, de 3,194 milhões para 1,281 milhão, com a crescente transferência das operações para o aeroporto de Confins.