Demanda aérea cresce 5,3% em abril

28/05/2012 - Valor Econômico

Por Alberto Komatsu

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) divulga hoje crescimento de 5,33% na demanda por viagens aéreas domésticas em abril, na comparação anual. Embora tenha sido uma recuperação em relação ao avanço de apenas 1,27% de março, foi o desempenho mais fraco para o mês de abril desde 2009, quando o fluxo de passageiros cresceu 2%.

Esse resultado segue em linha com os desempenhos mensais desde setembro. Foi quando a demanda doméstica começou a crescer um dígito, interrompendo um ciclo de 24 meses de expansão vigorosa, de dois dígitos. Em alguns casos, como em fevereiro de 2010, o fluxo de passageiros no país chegou a ter alta de quase 43%.

No primeiro quadrimestre deste ano, apenas fevereiro mostrou crescimento de dois dígitos, de 13,25%. Esse resultado, porém, foi influenciado pelo Carnaval, que em 2011 foi festejado em março.

Clique na imagem para ampliar
 Para o professor da Coppe/UFRJ, Elton Fernandes, especializado em transporte aéreo, o resultado de abril mostra que a aviação está se acomodando a um patamar de crescimento inferior aos dos dois últimos anos, quando o fluxo de passageiros no país, nos meses de abril, teve expansão de 31,4% e 23,4%, respectivamente. Foram resultados vigorosos, apesar de ser o início do período mais fraco para o setor, o segundo trimestre.

"Está havendo uma mudança de patamar. A evolução da demanda não vai repetir os dois anos anteriores. Não se espera que a classe C, que pagou passagens em até 36 vezes, repita a compra", diz Fernandes. Após três anos de forte crescimento anual - 17,65% (2009), 23,47% (2010), e 15,72% (2011) -, em 2012 não se espera que a demanda suba mais que 10%.

A comparação da demanda doméstica acumulada de janeiro a abril também comprova a mudança de patamar. Nos quatro primeiros meses de 2012, o fluxo de passageiros no país acumulou expansão de 6,77%. Em igual período de 2011, a alta foi de 20,22%. Entre janeiro a abril de 2010, de 32,22%.

O desempenho acumulado de janeiro a abril de 2012, porém, se assemelha ao de igual período de 2009. Naquela época, o transporte de passageiros no país acumulou crescimento de 4%. A aviação mundial ainda sofria influência da quebra do banco Lehman Brothers, que deflagrou a crise financeira internacional em setembro de 2008.

A demanda por voos internacionais, em abril, mostrou recuo de 1,49% diante de igual mês do ano passado, com redução de oferta de 1,65%. Em abril de 2011, o fluxo de passageiros ao exterior havia crescido 34,88%, com alta de 18,6% na capacidade dos aviões.

De janeiro a abril, o fluxo de passageiros ao exterior acumula alta de 1,75%. Em igual intervalo de tempo de 2011, o avanço havia sido de 21,28%. "A valorização do dólar reduz certamente a demanda por voos internacionais", afirma Fernandes.

Os dados da Anac de abril também refletem estratégias bem parecidas adotadas por TAM e Gol, com prejuízo combinado de pouco mais de R$ 1 bilhão em 2011. As duas maiores companhias aéreas do país resolveram conter a oferta para aumentar a rentabilidade.

Com isso, TAM e Gol seguem perdendo participação de mercado diante das companhias de médio porte. O duopólio respondeu por 74,7% da demanda doméstica em abril, recuo de 6,2 pontos percentuais ante igual mês de 2011.

Azul, Avianca e Trip, que mantêm planos de aumentar a oferta, representaram 19,21% do fluxo de passageiros no mês passado, um avanço de 6,5 pontos percentuais, proporcional à perda de mercado de TAM e Gol.

Enquanto a demanda combinada de Gol e TAM recuou 2,47% em abril, ante igual mês de 2011, o fluxo de Azul, Avianca e Trip aumentou 70,22%. O mesmo aconteceu com a oferta de assentos. As duas maiores companhias do país acumularam redução de 0,12%, sendo que as três de médio porte aumentaram a capacidade em 70,92%.

"Essa estratégia [das médias empresas] é oportunista. A Gol, por exemplo, cresceu no vácuo da crise da Varig. Essas empresas terão de se endividar para manter a operação e devem estar mais alavancadas", afirma Fernandes.