Companhias aéreas oferecem iPads aos passageiros para reduzir custos

12/06/2012 - Valor Econômico, Justin Bachman

A Scoot, filial de baixo custo da Singapore Airlines comandada por Campbell Wilson, é uma das empresas que usam tablets em vez de monitores nas poltronas. Foto: Munshi Ahmed/Bloomberg
Os passageiros que viajam em aeronaves da Scoot, empresa de Cingapura e subsidiária de baixo custo da Singapore Airlines que inaugurou seus serviços em 4 de junho, podem se distrair com iPads alugados por US$ 17 e repletos de filmes, músicas, jogos e shows de TV.

No outono passado, a Jetstar, outra companhia de baixo custo, originada da australiana Qantas Airways, também começou a oferecer iPads por US$ 10 a US$ 15 nos voos com duração superior a duas horas. Embora tablets sejam inegavelmente populares, sua disponibilização como entretenimento de bordo tem mais a ver com seu peso.

A eliminação de equipamentos e fiação necessários para o funcionamento de monitores instalados nas traseiras das poltronas das aeronaves, para não falar dos próprios monitores, pode permitir às companhias economizar milhares de dólares na operação de suas frotas — uma redução de peso que se traduz diretamente em menor consumo de combustível de aviação, cujo custo subiu 36% em dois anos.

A Scoot, comandada por Campbell Wilson, informa que a eliminação dos sistemas de entretenimento a bordo (EaB) reduziu em 7% o peso dos seus quatro Boeing 777 – mesmo após a instalação de 40% mais assentos.

As economias são tão significativas porque os sistemas EaB mais antigos podem passar de 13 quilos por assento, diz Neil James, executivo de vendas da Panasonic Avionics, maior fabricante de equipamentos EaB.

Esses quilinhos vão se acumulando rapidamente: os sistemas de entretenimento em um A380 de 526 assentos da Lufthansa, por exemplo, podem facilmente chegar a uma tonelada por voo.

Duas outras companhias aéreas australianas, Qantas e Virgin Australia Airlines, alugam tablets em voos domésticos. Em outubro, a americana Delta Air Lines começou a testar downloads de vídeo em 16 aviões que voam rotas mais longas nos Estados Unidos.

Os passageiros podem baixar filmes e programas de TV em seus laptops por preços entre US$ 0,99 e US$ 6. A Delta permitirá downloads em outros aparelhos ainda este ano.

Mesmo assim, fabricantes de equipamentos de entretenimento, como a Panasonic, Thales, Lumexis, Rockwell Collins e a Live TV, subsidiária da JetBlue Airways ainda não estão preocupados.

Os sistemas instalados nas traseiras das poltronas estão firmemente enraizados na frota mundial atual, e as companhias aéreas estão empenhadas em ampliar sua oferta de entretenimento com requintes inviáveis em aparelhos portáteis.

A Emirates, de Dubai, por exemplo, introduziu recentemente monitores maiores e sensíveis ao toque nos assentos, emulando as interfaces dos atuais smartphones e de outros aparelhos. (Na primeira classe, a Emirates agora apresenta telas de 27 polegadas com alta definição.)

Os mais de 300 filmes e outros conteúdos disponibilizados sob demanda pela companhia aérea exigem 2 terabytes de armazenamento de dados por avião. “Não poderíamos acomodar nossos produtos em um aparelho de mão”, diz Patrick Brannelly, vice-presidente da Emirates que supervisiona os serviços de bordo.

Além disso, para a maioria das companhias aéreas mais importantes do mundo, há uma preocupação ainda mais mundana do que peso: com espaço limitado, como você equilibra um iPad e seu jantar? “Equilibrar uma bandeja no colo enquanto tenta assistir a um filme e comer não propicia uma boa experiência”, diz Brannelly, descrevendo as experiências das companhias aéreas com aparelhos de vídeo portáteis anteriores.

Fabricantes tradicionais de equipamentos EaB também tornaram seus sistemas mais leves e compactos. Distantes estão os dias em que havia uma pequena caixa sob cada assento para alimentar as telas instaladas nas traseiras dos encostos dos assentos.

Os sistemas mais novos incorporam seus processadores no módulo que contém a própria tela, que ficou substancialmente mais delgada graças às novas tecnologias de vídeo.

Alguns fabricantes de equipamentos, como a Lumexis, estão adotando cabos de fibra ótica para disponibilizar entretenimento. Os sistemas mais novos podem pesar pouco mais de dois quilos por assento, diz Harry Gray, vice-presidente de vendas e marketing da IMS, fabricante de sistemas EaB.

À medida que os modernos sistemas instalados nos encostos dos assentos tornam-se cada vez mais conectados à internet, as companhias aéreas vêm explorando maneiras de gerar novas receitas provenientes de publicidade e de comércio eletrônico.

“Nós vemos o sistemas EaB em transição: de entretenimento para, efetivamente, plataforma de negócios”, diz James, da Panasonic, citando estatísticas segundo as quais o tempo médio de voo, levando em conta todas as rotas, é seis horas. Com um público “cativo” durante esses voos, os marqueteiros enxergam aí “uma grande oportunidade”, diz ele.

Especialistas do setor dizem que a evolução mais provável em termos de equipamentos a bordo será uma expansão gradual de opções quanto ao que os passageiros poderão assistir, em função de cada companhia aérea e de suas rotas específicas: downloads para os que querem usar seus próprios aparelhos, uma grande tela pessoal de alta definição nas classes premium e aluguel de tablets para passageiros que prefiram assistir conteúdo em telas maiores do que as instaladas na traseira dos encostos do assentos.

“Em última instância, será uma combinação de diferentes formas de conteúdo”, prevê Russ Lemieux, diretor executivo da Airline Passenger Experience Association.

Embora TV via satélite e tablets possam ser o futuro para algumas companhias aéreas de baixo custo e operadoras em escala regional, os executivos da maioria das empresas aéreas internacionais acredita que os sistemas tradicionais EaB continuam melhorando a experiência a bordo em grau suficiente para compensar seus custos potencialmente maiores. Diz Brannelly: “Ninguém vai descer de um avião e dizer: “Foi uma porcaria de experiência, mas economizou algum peso”".