A longa e lenta morte da primeira classe no ar

20/07/2012 - Valor Econômico

Jack Nicas - The Wall Street Journal

Companhias aéreas dos Estados Unidos estão reduzindo o tamanho da primeira classe em algumas rotas internacionais, porque estão concluindo que o serviço de luxo - há muito uma parte fundamental das viagens aéreas - tem um grande problema: poucos viajantes realmente pagam por ele.

Atualmente, devido a um encolhimento dos orçamentos de viagens empresariais, à frágil economia mundial e aos preços de passagens de primeira classe, que muitas vezes chegam a US$ 15.000 para uma viagem de ida e volta, o passageiro de primeira classe típico está pagando com as milhas dos programas de fidelidade.

Na verdade, depois de ser um emblema do conforto nos céus, o serviço de luxo vem desaparecendo nas companhias aéreas americanas há décadas. Dos mais de 500 aviões de aéreas americanas que voam regularmente para a Europa, Ásia e América do Sul, apenas 27% oferecem primeira classe.

Agora, as duas únicas empresas que mantêm serviços de primeira classe, a American Airlines e a United Airlines, estão diminuindo o espaço dedicado às cabines mais luxuosas.

Em maio, a American Airlines, uma filial da AMR Corp., informou que planeja reduzir o número de assentos dedicados à primeira classe em voos intercontinentais em 90%, de 750 para 80. A United, parte da United Continental Holdings Inc., está terminando uma revisão de frota que irá descartar um terço dos seus assentos de primeira classe nas rotas internacionais.

Companhias aéreas de outros países, como a Qantas Airways Ltd. e a Deutsche Lufthansa AG também decidiram recentemente reduzir a primeira classe.

As companhias aéreas estão essencialmente remodelando seu serviço de luxo, substituindo poltronas da primeira classe com assentos redesenhados na classe executiva que rivalizam com a maioria das cabines de primeira classe de hoje e superam até mesmo as melhores poltronas dos aviões da década de 90. Ao mesmo tempo, as operadoras também estão adicionando assentos na classe econômica e criando uma nova classe, a econômica "prêmio", que oferece poltronas com mais espaço para as pernas.

Motivos econômicos levaram as companhias aéreas americanas a consolidar seus espaços de luxo na classe executiva - um rótulo mais palatável para os gerentes dos departamentos de viagens de empresas do que o de primeira classe.

De acordo com a Advito, uma consultora que ajuda empresas a administrar as viagens aéreas, menos de 20% de seus clientes permitem que os funcionários voem de primeira classe em voos de longa distância, enquanto que cerca de 75% autorizam viagens de classe executiva.

As grandes companhias aéreas dos EUA continuam a oferecer um serviço em rotas mais curtas que é faturado como de primeira classe, mas geralmente o usam como um bônus para viajantes frequentes. Em voos internacionais, as cabines de primeira classe e executiva dão às companhias aéreas uma forma de atrair viajantes que gastam mais e são seus principais geradores de receita. A American, por exemplo, diz que 25% de seus passageiros representam 70% de sua receita.

Algumas companhias aéreas internacionais de luxo têm voltado a investir na primeira classe, intensificando a concorrência em certas rotas. A Singapore Airlines Ltd. oferece uma suíte privativa com cama de casal e champanhe para casais. A Air France-KLM SA tem uma galeria de arte contemporânea em alguns aviões. A Emirates Airline oferece chuveiros e suítes privativas com frigobar.

As americanas Delta Air Lines Inc., US Airways Group Inc. e a antiga Continental Airlines abandonaram a primeira classe anos atrás em favor de uma classe executiva melhorada em rotas internacionais. A Delta e a US Airways ainda oferecem primeira classe na América do Norte, mas dizem que seus melhores lugares estão realmente na classe executiva.

A American está duplicando a estratégia em seus 47 aviões maiores, eliminando a primeira classe para aumentar a classe executiva e adicionar uma cabine econômica "prêmio".

A companhia aérea não está abandonando completamente a primeira classe, mas sim "racionalizando o tamanho", disse Jim Butler, diretor de planejamento comercial para a América do Norte. A American planeja adicionar 10 novos Boeing 777 em alguns de seus mercados mais lucrativos - São Paulo, Londres e Tóquio -, com cabines de primeira classe menores, mais extravagantes, com as quais esperam aumentar o porcentual de viajantes que pagam a tarifa cheia.

"Há sempre um grupo VIP que exige um nível superior de serviço, exclusividade, privacidade", disse Butler.