Aéreas regionais somem do mercado

28/07/2012 - O Estado de São Paulo

Desde 2010, dez empresas deixaram de voar por problemas econômicos ou fusões
Glauber Gonçalves / RIO

ANDRE LESSA/AE-22/7/2010

Pelo interior. Após fusão com a Azul, Trip tem a intenção de dominar destinos não atendidos pelas ‘gigantes’ Gol e TAM

Apesar do forte crescimento do número de passageiros transportados no Brasil, os últimos anos têm sido difíceis para as companhias aéreas regionais. Mais vulneráveis que as grandes empresas, muitas não aguentaram as adversidades. De 2010 para cá, restaram apenas 4 das 14 empresas que operavam voos regulares regionais, segundo levantamento do 'Estado' a partir de dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Nesse período, nove pararam de voar regularmente e uma - a Pantanal - foi incorporada pela TAM. Continuam operando NHT, Sete, Passaredo e Trip, que em maio anunciou fusão com a Azul, o que a colocará no rol das grandes companhias aéreas. As duas últimas conseguiram implementar modelos de negócios que lhe deram alguma musculatura e maior resistência para sobreviver no mercado.

Num segmento em que a necessidade de capital não é uma barreira tão grande como no caso das empresas aéreas de maior porte, investidores acabam ignorando margens apertadas e outras adversidades, apontam especialistas. "Esse é um setor em que a mortandade das empresas é muito grande. Em geral, os empresários subestimam o risco de entrar nesse negócio", afirma o consultor André Castellini, da Bain & Company.

Desafios. Para as companhias que seguem voando, o cenário é de desafios. Além dos altos custos do querosene, as empresas regionais enfrentam a deficiente infraestrutura aeroportuária do interior do País e uma rede de distribuição de combustíveis que não chega a todas as cidades com voos regulares.

Entre os 13 destinos que a Trip opera no Amazonas, há ofertas do insumo em apenas quatro. A situação se repete em outras regiões, como em cidades gaúchas, aponta diretor de Relações institucionais da aérea, Victor Celestino. "Isso significa que a empresa tem de levar o combustível para ir e voltar. Então tenho menos capacidade de levar passageiros e tenho um custo maior", diz.

Mesmo com as dificuldades, o País ainda vê empresários querendo apostar no segmento. É o caso de Jorge Barouki, do grupo catarinense Acauã, que comprou a NHT em maio. A aérea pertencia ao gaúcho JMT, e deu prejuízo no ano passado.

O novo dono tem planos de expansão. Com uma frota de seis aeronaves LET 140 para 19 passageiros, a NHT planeja incorporar quatro aviões Embraer de 30 lugares este ano e outros seis em 2013 - um investimento que totaliza US$ 21,5 milhões. O plano é ampliar os destinos no Paraná e em Santa Catarina e estrear no interior de São Paulo.

Com base em Goiânia, a Sete Linhas Aéreas, que usa aviões iguais aos que a NHT quer comprar, também pretende adquirir aeronaves de maior porte. No entanto, a empresa - há oito anos operando voos regulares - tem planos mais modestos. Pretende manter o ritmo atual de crescimento e adicionar uma aeronave por ano à sua frota.

"Somos uma empresa extremamente pé no chão. É preciso investir em metodologia interna. Quem tenta viver na base do instinto não prospera. Essa é a razão de muitas fracassaram ao longo todo tempo", diz o diretor comercial da Sete, Decio Assis.

Apesar do ânimo de alguns empresários, a aviação regional no País atende atualmente menos destinos do que há 13 anos. Em 2011, havia voos regulares para 130 municípios, número inferior ao de 1998, quando 180 cidades estavam interligadas.

Diante das dificuldades, o setor aguarda com ansiedade o plano da Secretaria de Aviação Civil (SAC) para a aviação regional, que pretende ampliar o número de localidades atendidas. Procurada, a SAC não retornou até o fechamento desta edição.

● Entusiasmo controlado
DECIO ASSIS
DIRETOR DA SETE LINHAS AÉREAS
“Somos uma empresa extremamente pé no chão. É preciso investir em metodologia interna. Quem tenta viver na base do instinto não prospera.”