Gol perde R$ 715 milhões no segundo trimestre e ações caem quase 13%

15/08/2012 - O Estado de São Paulo

Perdas. Companhia anunciou redução de oferta neste ano, reforçando a adoção de uma estratégia conservadora; expectativa da empresa é de que medidas adotadas para aumentar a eficiência, como demissões e corte voos, surtam efeito no segundo semestre
GLAUBER GONÇALVES / RIO - O Estado de S.Paulo

Apesar do plano de ajustes que resultou em centenas de demissões e em cortes de voos, a Gol deve fechar 2012 novamente com prejuízo. A companhia anunciou ontem perdas de R$ 715 milhões no segundo trimestre, quase o dobro do registrado em igual período do ano passado. Esse foi o quinto trimestre consecutivo que a Gol anunciou prejuízo líquido.

O resultado decepcionou o mercado e as ações ordinárias (com direito a voto) da empresa caíram quase 13% ontem e foram o principal destaque negativo da BM&FBovespa.

Com a perspectiva de crescimento menor da economia, a companhia revisou para baixo suas projeções de aumento da demanda por voos para 2012 e prevê que fechará o ano com uma redução de até 4,5% na oferta.

Embora a aérea projete um segundo semestre "significativamente" melhor, nas palavras do presidente Paulo Kakinoff - que conduziu a primeira teleconferência de resultados desde que assumiu a Gol, em junho - os números parecem contrariar a tese. Os maus momentos vividos no começo de 2012 devem comprometer o resultado do ano.

Além dos custos de até R$ 25 milhões referentes à eliminação de 1.500 vagas, a empresa foi fortemente atingida pela alta do dólar. O impacto do câmbio no segundo trimestre foi de cerca de R$ 325 milhões, ou 17,5 pontos porcentuais da margem operacional (negativa em19,4%).

"Desejamos voltar a ter uma operação com números positivos, mas não vemos isso para este ano", disse o executivo a jornalistas. Ele atribuiu o resultado também a outros fatores que considerou externos à companhia. "Tivemos maior variação cambial, recorde histórico no querosene de aviação e aumento de tarifas aeroportuárias acima da inflação", declarou.

A Gol não foi a única a registrar perdas no segundo trimestre. A TAM divulgou na última sexta-feira um prejuízo líquido de R$ 928 milhões. Além das perdas financeiras, impactadas principalmente pela alta do dólar, a conta de voos das duas empresas também ficou no vermelho. A Gol registrou prejuízo operacional de R$ 354 milhões e a TAM, de R$ 284 milhões.

O segundo trimestre é tradicionalmente o período mais fraco no setor de aviação comercial. A expectativas das empresas é de que a redução da oferta de voos que vem sendo feita desde o início do ano comece a surtir efeito no segundo semestre.

Tarifas. Depois de um 2011 com os preços das passagens registrando recordes de baixa, que renderam prejuízos de centenas de milhões às aéreas brasileiras, a Gol começou ainda no segundo semestre de 2011 um movimento de aumento das tarifas.

Kakinoff afirmou que a Gol não prevê nenhuma redução no valor médio que o passageiro paga para voar um quilômetro -o chamado yield- este ano ante 2011. A declaração foi dada em resposta à pergunta de um analista. Ao pontuar que a recuperação desse indicador foi pequena no segundo trimestre, o profissional questionou se a oferta de passagens a R$ 39 este mês não apontaria uma reversão da tendência de elevação do yield.

O presidente da Gol sustentou que a intenção das promoções é melhorar o aproveitamento da capacidade das aeronaves, o que lhe conferiria yields mais elevados, e reforçaria seu posicionamento de low cost, low fare (baixo custo, baixa tarifa). "Nossa estratégia é de intensificar e acelerar (o crescimento do yield)", afirmou.

Kakinoff afirmou, porém, que não vê espaço para um aumento significativo das tarifas. Reconhecendo a aérea formada por Azul e Trip como um dos grandes players do mercado, sem citá-las, ele afirmou que o ambiente é de forte competição. "O ambiente é competitivo e não permite (aumento expressivo das tarifas)", declarou. / COLABORARAM CLAUDIA VIOLANTE E MARINA GAZZONI