Pequenas ganham com consumo descentralizado

21/08/2012 - Valor Econômico

Por Andréa Háfez

O mercado aéreo brasileiro está se espalhando para outros pontos do território nacional, além dos grandes centros urbanos tradicionais. Juntamente com a expectativa de um crescimento próximo a 7% no volume total de passageiros transportados neste ano em comparação a 2011, o cenário favorece a desconcentração do setor. Pequenas empresas ganham participação sem tirar o público das grandes, mas por meio de conquista dos novos espaços abertos.

Neste movimento, a infraestrutura aeroportuária tem um papel relevante. Ao contrário de companhias que já tinham uma fatia importante nas operações do setor - como a TAM e a Gol - a estratégia das menores foi buscar aeroportos pouco utilizados e com capacidade disponível, e atender a demandas ainda não supridas. De 2010 para 2011, somente nas etapas domésticas, houve um aumento de mais de 17% na quantidade de passageiros transportados por companhias aéreas nacionais: de 71,641 milhões para 83,912 milhões.

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 De acordo com o analista Felipe Queiroz, da Austin Asis, as empresas tradicionais davam preferência às grandes rotas, com rentabilidade maior, centralizando operações em aeroportos como os de Guarulhos, Congonhas, Galeão, Confins e Brasília. "No entanto, a população que viaja hoje no país está presente em outros lugares. A renda cresceu fora dos grandes centros urbanos, o que levou ao aumento da demanda pelo serviço aéreo em outros municípios", afirma.

As empresas que estavam atentas aproveitaram a oportunidade: cresceram nesses novos nichos e ganharam participação, o que deu início à desconcentração do mercado. "O consumo descentralizou e ofereceu chances de crescimento em cima de mercados pouco explorados, os regionais", diz o analista. "O aumento na fatia do mercado não se deu pela perda das outras empresas, mas pela conquista do que ainda não estava explorado", afirma.

De acordo com a economista Cláudia Oshiro, da Tendências Consultoria Integrada, a expectativa é de que o crescimento da demanda em 2012 seja de 7%, com um fluxo de passageiros perto de 115 milhões. "É menor em comparação a 2011, quando houve um aumento de 15% sobre o ano anterior, mas é preciso lembrar que o patamar de comparação está elevado", diz.

Para Cláudia Oshiro, o aumento da massa salarial, estimado em 5,4% para este ano, dará suporte ao crescimento dos passageiros em viagem de turismo; enquanto a evolução da atividade econômica - 2,5% do PIB, segundo a Tendências - sustentará as viagens de negócios. "Esse crescimento ainda é viável dentro dos limites atuais da infraestrutura ofertada, mas há gargalos", diz.

O fato de os aeroportos dos grandes centros estarem com sua infraestrutura muito utilizada contribuiu para o deslocamento da oferta e abriu espaço para as pequenas empresas como a Azul, Avianca e da Trip.

Se em 2008, a TAM e a Gol respondiam por 92% do volume de passageiros transportados no mercado aéreo doméstico, em 2011 esse percentual passou para 78%. Neste ano, no acumulado de janeiro a abril, as duas grandes atenderam a uma fatia de 73,96% da demanda, enquanto a Azul respondeu por 9,92%, a Avianca por 5,01% e a Trip por 4,20%. A redistribuição de passageiros transportados entre as companhias fica evidente.

Esse novo desenho ainda é recente, mas já tem impacto no índice de concentração no mercado. Quanto menos concentrado e melhor distribuído, melhor para os consumidores pois a concorrência cresce. Em 2008, o índice era de 0,44, em 2011 passou para 0,32. O índice de 0,18 sinaliza um mercado moderadamente concentrado. "Estamos no caminho para sair de um perfil altamente concentrado e tornar a competição entre as empresas mais acirrada", afirma Felipe Queiroz.

"As empresas estão mais preparadas e a concorrência será para manter o espaço conquistado e ganhar mercado". Entre as pequenas, afirma, a disputa será maior, pois qualquer tem impacto maior. "Neste momento não há um modelo único de empresa aérea operando. Há operações diferentes para demandas diferentes", afirma.