Crise abate companhias líderes

17/09/2012 - Zero Hora

CAIO CIGANA
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TAM e Gol amargaram prejuízos e recuos no mercado, enquanto empresas com menor participação avançam no setor de aviação
Apesar do crescimento a jato do mercado doméstico, que dobrou o número de passageiros transportados nos últimos seis anos, o céu não é de brigadeiro para as líderes do setor. Abatidas pela turbulência econômica, TAM e Gol, que já fecharam no vermelho em 2011, amargaram prejuízo somado de R$ 1,6 bilhão no segundo trimestre.

Na tentativa de estancar as perdas, a dupla recorreu ao enxugamento de rotas e, com isso, acelera a perda de participação de mercado para as concorrentes menores.

Para o professor de ambiente de negócios da aviação do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) Richard Lucht, também diretor-geral da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-Sul), o desastre dos balanços é explicado pela exposição do setor às oscilações da economia. A alta do câmbio, lembra Lucht, afeta os preços do combustíveis e do leasing das aeronaves, o equivalente a 40% do custo operacional das companhias. Com isso, resta para as empresas manobrar com o quadro de pessoal e a malha.

No caso da Gol, que empilha prejuízos a cinco trimestres consecutivos, há ainda o agravante da dívida que chegou a R$ 5,7 bilhões em junho.

Pedro Galdi, estrategista-chefe e analista do setor aéreo na corretora SLW, vê com preocupação o futuro da aérea. A empresa, entende, não deve voltar a ter lucro trimestral antes de 2014.

– A Gol deve 10 vezes mais do que gera de caixa. Grandes empresas de aviação já desapareceram no país – alerta Galdi, que, entretanto, vê numa fusão ou aquisição o caminho natural para a Gol, assim como ocorreu com a TAM e a Lan, do Chile.

Na busca por cortar custos, a Gol anunciou este ano o fim de 80 voos. O número de corte de funcionários poderia chegar a 2,5 mil. Procurada, a TAM informou que, para contornar os resultados financeiros negativos causados por câmbio e alta dos combustíveis, vai reduzir a oferta de assentos entre 2% e 3% este ano. A Gol, por sua vez, não se pronunciou

Para Volney Gouveia, professor de economia e transporte aéreo da Universidade Anhembi Morumbi, apesar do pessimismo reinante com o setor, a crise é fruto de fenômenos econômicos pontuais que atingem o segmento em todo o mundo e, por isso, passageira. De qualquer forma, lembra Gouveia, o mercado de aviação no Brasil é altamente dinâmico quanto ao aparecimento e fim de empresas.