Terminal de Ribeirão Preto terá capacidade ampliada

17/09/2012 - Valor Econômico

Por De Ribeirão Preto (SP)

Idelberto Viana da Silva, comerciante de Macapá, ao desembarcar pela primeira vez em Ribeirão
Preto: " Aqui tudo é bonito, lá o aeroporto é uma vergonha"

Apesar de ser o terminal mais movimentado do interior paulista, o aeroporto estadual Leite Lopes, de Ribeirão Preto, ainda mantém clima de tranquilidade. Em uma manhã de quinta-feira, apenas cinco aviões podiam ser vistos na pista - quatro parados em solo e um em procedimento de pouso, trazendo passageiros de São Paulo. Ao desembarcar, os viajantes precisam caminhar por uma área descoberta até o terminal. Tapumes indicam que a área da única esteira de devolução das malas está em reforma, o que não chegar a causar atraso na entrega de bagagens, que demora cerca de 15 minutos.

Ao sair do saguão, a maioria dos passageiros encontra familiares à espera, e alguns se dirigem à única locadora de automóveis instalada no aeroporto. Para conseguir um táxi, é preciso atravessar a rua. Os carros não são padronizados, e parecem ser clandestinos, porém são legais. O ponto é servido por 35 taxistas, número insuficiente para dar vazão ao fluxo de passageiros.

Na cidade de 612 mil habitantes, conhecida pela vocação para o agronegócio e pela riqueza (30º maior PIB do país), a corrida na bandeira 1 custa R$ 5, superior em 22% ao da capital paulista (R$ 4,10), por exemplo.

No terminal, há poucas referências ao Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo (Daesp), que administra o local - o aeroporto não faz parte da rede da Infraero, responsável pela maior parte dos terminais do país. No saguão, um restaurante-lanchonete e uma banca de revistas dividem espaço com um posto policial e lojas de companhias aéreas.

TAM, Webjet, Azul, Passaredo e Trip operam rotas em direção a Ribeirão Preto. Juntas, transportaram 633,8 mil pessoas entre janeiro e julho deste ano, 88,6% a mais do que no mesmo período de 2010. Na comparação com os sete primeiros meses de 2011, quando Webjet e Passaredo aumentaram o número de voos, houve redução de 6,3%, já que as companhias fizeram ajustes na malha, depois de algumas rotas não terem sido consideradas rentáveis - até o fim do mês, a Webjet vai suspender a operação na cidade, por exemplo.

O número de pessoas que passam pelo aeroporto de Ribeirão, no entanto, é superior ao de capitais como Teresina, onde circularam 611 mil pessoas nos sete primeiros meses de 2012.

O voo entre Ribeirão Preto, que fica a 315 km de São Paulo, e a capital paulista dura 50 minutos e as promoções de passagens aéreas tornam os preços próximos da tarifa do ônibus intermunicipal (R$ 60). O administrador Tiago Gouarte passa pelo aeroporto a cada quatro meses, procedente de Belo Horizonte. O destino é Barretos, município próximo a Ribeirão Preto, para onde vai em visita a familiares. "A estrutura do aeroporto é boa, mas falta, por exemplo, um monitor na sala de embarque para acompanhar a situação dos voos", diz. Barretos fica a uma hora de carro do terminal.

Inaugurado em 1939 como aeroclube, o aeroporto possui hoje três portões de embarque e nove posições de aeronaves. O bancário Wagner Lopes Ferreira faz viagens de negócios pelo banco onde trabalha. "Venho sempre de Campinas para cá. Há bom atendimento, mas faltam mais opções de restaurante e uma cobertura para os passageiros entre a aeronave e o prédio", afirma.

Para o comerciante Idelberto Viana da Silva, a estrutura do terminal é bem superior a do aeroporto de Macapá, onde vive. " Aqui tudo é bonito. Lá o aeroporto é uma vergonha."

O comerciante José Antônio Cabreira administra a única lanchonete-restaurante do terminal desde 2003. Diz que nesses nove anos o fluxo de pessoas cresceu e o local foi sofrendo adaptações. "Era pequena e acanhada. Não parecia cafeteria de aeroporto", diz. Cabreira admite que o espaço ficou pequeno para atender a todos os clientes. "O movimento triplicou e, em alguns horários, falta espaço."

Nos próximos meses, o aeroporto recebe R$ 170 milhões para adequações de segurança e aumento da capacidade da pista. Vai avançar 500 metros nas laterais, em uma área hoje ocupada por cerca de 1,5 mil famílias. Pelo menos metade delas vive em áreas regulares, enquanto a outra parte mora em ocupações.

O ajustador mecânico Márcio José Ferreira vive há 17 anos no bairro Salgado Filho I, em uma casa ao lado do aeroporto. "A proximidade faz com a casa vá rachando, mas gosto daqui. Não gostaria de mudar", diz, lembrando que os dois filhos nasceram e estudam na região e que a mulher também prefere morar no local que deve ser desapropriado. O mecânico Sérgio Luiz Leite, 21 anos, vive no bairro desde que nasceu e é vizinho das irmãs. "Tenho toda a família por perto. Gosto daqui e não quero sair para um conjunto habitacional."

Do outro lado da rua, está em construção um armazém alfandegado de cargas, com 10 mil m2 de área e capacidade para abrigar 70 mil toneladas, que será administrado pela empresa Teadi Brasil. A proximidade do terminal com a rodovia Anhanguera é apontada como outra vantagem logística do aeroporto.

O coordenador da Teadi, Rubel Thomas, afirma que a estrutura deve ficar pronta até o fim do ano, mas a operação deve ter início em meados de 2013, após as adaptações da infraestrutura aeroportuária, que estão sendo feitas pelo Daesp. "O terminal receberá cargueiros internacionais e será uma alternativa aos aeroportos de Viracopos e Guarulhos. Estamos numa região muito rica, que precisa de melhor logística", afirma.

Para Thomas uma possível parceria com a iniciativa privada para administrar o terminal é "bem-vinda". "É sempre positivo. Somos da iniciativa privada e sabemos que ela pratica melhor gestão", diz o executivo.

Além do terminal de cargas, um novo hangar de aviação executiva está em construção. A movimentação de helicópteros chegou a 9,7 mil pousos e decolagens nos sete primeiros meses do ano, concentrando uma das maiores frotas do país. Entre os aeroportos que recebem aviação geral, Ribeirão Preto registrou o maior crescimento (29%) em 2011, na comparação com 2010, chegando a 28,8 mil pousos e decolagens de jatinhos e helicópteros, atrás apenas de aeroportos do Rio (Jacarepaguá e Santos Dumont), São Paulo (Campo de Marte e Congonhas), Curitiba, Belo Horizonte, Brasília e Goiânia.

As ampliações do local para atender à demanda crescente confirmam a previsão do taxista José Carlos Rodrigues, que viu o aeroporto se transformar nos últimos 30 anos, período em que trabalha na região. "O movimento aumentou e vai aumentar mais", prevê, lembrando que com frequência leva passageiros para os municípios de Franca, Sertãozinho e Bebedouro.

"Não sou um dos taxistas oficiais do aeroporto, mas fico esperando uma vaga [intervalo em que todos os taxis estão em atendimento] para transportar pessoas e isso sempre ocorre", conta. (GSD)