Para reduzir custo e entreter o público, aéreas fornecem tablets com filmes

28/09/2012 - Valor Econômico

Por Sam Schechner, The Wall Street Journal

Quando decidiu melhorar o sistema de entretenimento da pequena frota de Boeings 757 que voa no trecho Paris-Nova York, a empresa aérea francesa OpenSkies descartou a ideia de instalar por toda a cabine a fiação exigida por um sistema tradicional de monitores de vídeo, daqueles que ficam nas costas da poltrona.

Em vez disso, comprou cerca de 500 iPads e carregou uma série de filmes nos aparelhos da Apple para distribuir entre os passageiros.

O custo de instalar um sistema típico de entretenimento a bordo pode chegar a US$ 3 milhões por avião. Em vez disso, a OpenSkies diz ter gasto cerca de US$ 250 mil por aeronave com o sistema de iPads - que a companhia, que não tem classe econômica, empresta gratuitamente a todo passageiro.

"Descobrimos que, em termos de custos, dá para conseguir um produto muito bom gastando menos", afirmou Karin Drylie, diretora de marketing e produtos da OpenSkies, que pertence à British Airways, do International Consolidated Airlines Group (IAG).

Cresce o número de companhias aéreas que está recorrendo a tecnologias populares como tablets e "streaming" de vídeo por redes sem fio para melhorar o serviço de entretenimento a bordo - sem quebrar a banca. Um punhado, como a OpenSkies e a Qantas Airways, estão distribuindo tablets entre os passageiros, de graça ou por uma tarifa. Outras, como a Delta, estão instalando sistemas de vídeo sem fio que transmitem filmes e programas de TV de servidores a bordo da aeronave para aparelhos dos próprios passageiros - cobrando por isso.

O resultado é um novo mercado para entretenimento a bordo, tanto para pequenas companhias aéreas com frotas mais antigas como para aviões usados em voos de curta e média distâncias, que respondem por cerca de 75% das aeronaves comerciais. É o tipo de companhia aérea e de avião que em geral nunca ofereceu ao passageiro muito mais do que revistas de bordo e monitores espalhados pelo teto da cabine. Mas novos aparelhos eletrônicos estão mudando a equação do custo-benefício.

Os novos sistemas vêm em vários formatos. Uma solução é a companhia aérea carregar tablets com conteúdo e aplicativos típicos de sistemas de entretenimento de bordo para distribuição pelos comissários. Na semana passada, por exemplo, a El Al Israel Airlines começou a oferecer iPads a passageiros da classe executiva, como a OpenSkies.

Em dezembro do ano passado, a American Airlines, parte da AMR Corp., começou a distribuir de graça o tablet Galaxy Tabs, da Samsung, entre passageiros de classe executiva e primeira classe em certos voos, incluindo os 767s que são desprovidos de monitores individuais. Entre as companhias aéreas de baixo custo, a asiática Jetstar Group aluga iPads abastecidos previamente com conteúdo a passageiros em certas rotas.

Em outro modelo, promovido por empresas estabelecidas de entretenimento a bordo, a companhia aérea instala um sistema de "streaming" de conteúdo para a cabine inteira com uma seleção de filmes, séries de TV e jogos, normalmente em combinação com acesso geral à internet. Isso feito, a companhia pode transmitir o conteúdo ao aparelho de passageiros, bem como a monitores sem fio distribuídos entre passageiros ou embutidos em poltronas.

A American Airlines já está usando a transmissão de vídeo por redes sem fio em certos voos. Na semana passada, a Delta anunciou que fará o mesmo em todos os aviões com duas classes de assentos dentro dos Estados Unidos até o fim de 2013 - incluindo nos cerca de 350 aviões da frota americana que hoje não têm sistema de entretenimento a bordo com monitores de vídeo individuais.

Os dois tipos de sistema - o de tablets e o de transmissão por rede sem fio - podem custar menos do que sistemas tradicionais para a companhia aérea por outro motivo: a redução de peso. Um sistema sem fio pode significar centenas de quilos a menos em cabeamento. No caso de um 767 com 260 lugares, isso significa 80 mil toneladas a menos de consumo de combustível no ano, ou quase US$ 90 mil aos preços atuais do combustível, informou a Lufthansa Systems, provedora de tecnologia para aviões e subsidiária da Deutsche Lufthansa.

Alguns executivos da aviação comercial dizem que a distribuição de tablets diretamente aos passageiros provavelmente seguirá sendo uma exceção - ou uma solução paliativa até a chegada de novos aviões, já com novos sistemas integrados. Em parte, porque é impraticável distribuir tablets a todos os passageiros de uma aeronave de grande porte com centenas de poltronas, dizem. Além disso, certos passageiros podem quebrar ou tentar roubar os aparelhos. Com sistemas sem fio nos quais o passageiro usa o próprio aparelho, o problema é eliminado.

Duas empresas especializadas em entretenimento a bordo, a Panasonic e a Thales, há pouco começaram a oferecer a novidade, que poderia ajudá-las a abocanhar, nos próximos anos, uma participação crescente desse mercado, que hoje movimenta entre US$ 2 bilhões e US$ 3 bilhões anualmente.

Mas muitas companhias aéreas dizem que os monitores instalados em poltronas ainda têm muito chão pela frente, sobretudo à medida que crescem em tamanho e sofisticação.

A Air France KLM vai passar a oferecer "streaming" pela internet, mas pretende manter os monitores em poltronas.

Christian Herzog, diretor de marketing da Air France KLM, disse que prefere a telinha de 15 polegadas embutida nas costas da poltrona a "um tablet que preciso ficar equilibrando nos joelhos".