Aeroporto do passado

Goiânia precisa de projeto que atenda demandas futuras.

16/12/2012 - Diário da Manhã

Reforma do Santa Genoveva só acumulará problemas
DIÁRIO DA MANHÃ
WELLITON CARLOS

Um problema grave toma conta dos céus e principalmente do chão do Brasil. A falta de aeroportos representa um dos maiores dramas do País em termos de infraestrutura, planejamento e desenvolvimento. Ao mesmo tempo em que a população que utiliza aeronaves cresce, faltam investimentos reais e satisfatórios na área.

Goiânia é o melhor exemplo: através da Infraero, o governo federal finge que investe na readequação do Aeroporto Santa Genoveva, mas a sociedade civil no geral critica o que tem sido feito. O economista e MBA pela Universidade de Genebra Reinaldo Fonseca, por exemplo, afirma ao DM que a reforma é um dos maiores "desperdícios de recursos públicos do País".

Para Fonseca, o fato mais determinante é a incapacidade de, em curto prazo de tempo, o aeroporto manter suas reais funcionalidades. Em outras palavras, a reforma de nada adiantará — só vai adiar uma solução definitiva para Goiás.

Conforme Fonseca, o governo federal deve deixar estrategicamente o comando dos aeroportos e oferecer concessões públicas para investidores privados. "A única solução viável, para não desperdiçar mais dinheiro, é deixar o Santa Genoveva como está e usá-lo para servir às pequenas aeronaves, helicópteros, etc", diz o economista.

Metrópole
O complexo aeroportuário de Goiânia está preparado para operar aeronaves de médio porte (B-737, AirBus 320, B 707 e raramente B-767). E só. Ocorre que Goiânia cresceu e hoje necessita de atendimento qualificado. Quando o goianiense, por exemplo, precisa ir para o exterior deve deslocar-se para São Paulo, Brasília ou Rio de Janeiro. O que é um absurdo quando se compara o Brasil com outros países do mundo, como Inglaterra, Rússia e Estados Unidos, que apresentam aeroportos de médio e grande portes espalhados pelo território. "É tão absurdo quando estou no avião e vejo na tela da minha poltrona ele passando por Goiás em direção à São Paulo, só porque não temos voos de Miami para Goiânia, apesar de termos mais de 3 mil goianos que se deslocam para lá mensalmente", diz Luiz Alberto Freitas, turismólogo e agente de viagens, que sempre faz a trajetória inversa, pois o avião só para em São Paulo.

A questão do aeroporto é acima de tudo política. Os governos que assumem o comando do País optam em preterir Goiás em seus planejamentos. A história do Santa Genoveva é a prova disso: ele foi construído para ser o primeiro aeroporto internacional do Centro-Oeste. As operações aéreas no atual sítio tiveram início em 17 de junho de 1956.

Conforme documentos da Infraero, o aeroporto de Goiânia foi planejado para ser grande. "O objetivo era tornar Goiânia a primeira cidade do Centro-Oeste a dispor de um aeroporto internacional", diz texto do órgão.

Atualmente, o aeroporto de Goiânia aguarda o fim da interminável reforma para só depois começar a pensar em novo aeroporto. Segundo Sirlei Aparecida Gomes, superintendente executiva da Secretaria de Infraestrutura (Seinfra) de Goiás, existe uma proposta para a construção de outra pista, mas que a Infraero prioriza a finalização das obras de reforma.

Sirlei diz que no último sábado encerrou-se o prazo para o Exército entregar as obras de infraestrutura do Santa Genoveva. Está nas mãos dos militares a finalização. O governo de Goiás não tem poder de comando na construção do aeroporto, pois a jurisdição do Santa Genoveva é federal. O que existe é uma pressão para que as obras sejam logo finalizadas e seja possível pensar um local adequado para efetivamente imaginar um novo aeroporto para Goiânia. "É até questão de segurança: o Santa Genoveva está dentro da cidade. O avião corta baixo, bem no Campus da UFG e no Ceasa. É muito arriscado", diz Fonseca.

Capítulo do apagão aéreo
A situação crítica dos aeroportos do Brasil é apenas mais um capíulo do apagão aéreo. Desde as últimas eleições, o tema foi colocado na esfera pública, mas existem poucos resultados práticos. Juras e promessas partidárias permanecem no papel.

Por isso nas últimas semanas, sem solução à vista, o governo desesperado prometeu anunciar novas concessões — Goiás pode estar na lista. Ocorre que o temor de que seja criticado por utilizar uma espécie de privatização pode atrapalhar as negociações. Com serviços ruins sobram reclamações: "Goiânia tem o pior aeroporto do mundo que já conheci", diz o empresário Everaldo Luís de Mesquita, que visitou 74 países. "O Brasil é uma vergonha lá fora", indigna-se

O governo ainda não conseguiu, por exemplo, oferecer internet sem fio gratuita nas pistas da Infraero. O usuário é explorado por este e vários outros serviços, o que não justifica mais manter o comando com a União.

A Copa do Mundo deve aumentar atrasos de voos inclusive em regiões fora do circuito dos estádios. Tudo por conta do aumento do turismo no País. A ausência de aeroporto decente pode prejudicar mais uma vez Goiás.

O plano de contingência do governo federal acumula relatórios sobre a situação dos voos, mas não pensa no problema em um tempo médio de dez anos. "O pro-blema mais grave é a sensação de que estas reformas e obras intermináveis ferem o princípio da economicidade, que consta na Constituição Federal. Ou seja, já falta di-nheiro no Brasil e ainda insistimos em fazer as coisas duas vezes", diz Leandro Cunha, advogado administrativista.

Goiânia precisa de segundo aeroporto ou 'nova pista'
Quando o secretário-geral da FIFA, Jerome Valcke, afirmou que a "falta" de aeroportos no Brasil é um dos principais pro-blemas para a Copa do Mundo de 2014, ele não pensava em Goiânia. Fosse assim, teria chorado diante do público ao ver o Santa Genoveva.

Um dos motivos para Goiânia não sediar a Copa é justamente a inoperância do governo federal em uma de suas competências.

O pior é que o drama de Goiás é público e mais um entre as várias unidades da federação. O chefe do Executivo estadual foi, por exemplo, ao Distrito Federal mais de 40 vezes na tentativa de espernear para que Goiânia tenha serviços aéreos dignos.

"É preciso que Goiânia tenha uma segunda pista 'entre aspas', caso ocorra um acidente na única pista que temos. A situação ficaria muito complicada", alerta Sirley Aparecida Gomes, da Secretaria de Infraestrutura (Seinfra), que acredita nas boas intenções da Infraero para o futuro.

Pelo aeroporto de Goiânia , nos meses de férias, passam cerca de 800 mil usuários. Em 2012, existe a estimativa de que o volume seja quatro vezes maior que a capacidade da novíssima sala de embarque.

O puxadinho inaugurado em 2011 tem uma estimativa de atendimento de 850 mil pessoas. A situação esperada para dezembro e janeiro é de caos. Na última semana, o DM flagrou fila para entrar até no banheiro.