Gol descarta rever decisão sobre Webjet

29/11/2012 - Valor Econômico

"A decisão está ligada ao aspecto técnico de não trabalharmos mais com os aviões Boeing 737-300", diz Kakinoff

Bruno Peres e Luciana Marinelli

O presidente-executivo da Gol, Paulo Kakinoff, afirmou ontem que não há possibilidade de a companhia reverter a decisão de encerramento das atividades da Webjet. "A decisão está ligada ao aspecto técnico de não trabalharmos mais com os aviões Boeing 737-300, que têm 21 anos de uso e consomem 30% a mais de combustível [que os aviões Boeing 737-800 operados pela Gol]

O executivo afirmou ainda que as despesas com combustíveis representam aproximadamente 45% dos custos da companhia. Kakinoff se reuniu ontem com o ministro da Secretaria de Aviação Civil (SAC), Wagner Bittencourt, para tratar do fim das operações da empresa adquirida no ano passado. Na sexta-feira, a companhia divulgou a demissão de 850 funcionários da Webjet, o fim da marca e a devolução de 20 aeronaves 737-300 da frota da empresa à Boeing.

"A Gol opera no mercado nacional com aproveitamento de capacidade em torno de 70%, o que permite absorver a malha da Webjet e, com isso, mitigar parte dos custos excessivos", disse Kakinoff ontem. Segundo ele, as demissões estão ligadas ao excesso de funcionários, após o fim das operações das aeronaves e ao mau momento do setor, que classificou como o pior da história da aviação brasileira. A Gol, especificamente, tem prejuízo acumulado de R$ 1 bilhão.

Segundo o executivo, todos os passageiros da Webjet foram realocados para voos da Gol e o planejamento inclui ainda os períodos de alta temporada.

O ministro Wagner Bittencourt avalia que o consumidor não será prejudicado pela decisão. "A Gol está tomando todas as providências, inclusive não tivemos problema nos últimos dias em que isso aconteceu", disse. Bittencourt não comentou as demissões. "O governo está acompanhando, sempre acompanha, e discute todas as questões do setor", acrescentou.

O encontro em Brasília não encerra a série de explicações que a Gol está sendo chamada a dar sobre o fim da Webjet. O Ministério do Trabalho informou que pretende marcar uma "mesa de negociação" entre a companhia aérea e os funcionários demitidos. Além disso, a Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado aprovou ontem requerimento que convida representantes do governo e do setor aéreo para discutir as demissões e a queda na concorrência do segmento após a aquisição e extinção da Webjet pela Gol.

Ontem também, o Ministério Público Federal requisitou informações à companhia e Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) sobre o assunto. Nos ofícios enviados ao órgão e à Gol, o procurador da República Thiago Lacerda Nobre dá um prazo de 15 dias para o recebimento dos dados.

À Anac, o procurador pediu a relação de slots (horários de pouso e decolagem nos aeroportos) operados pela Webjet dias antes de ser comprada, após a efetivação do negócio e até o encerramento das operações. Ele quer saber quais frequências de voos e rotas deixaram de ser operadas pela Gol.

"Os slots não são propriedade da empresa e devem ser manejados pela agência reguladora do modo que melhor aprouver ao interesse público", afirmou Nobre, no ofício. Ele pede que a Anac analise a possibilidade de redistribuição dos slots a outras empresas interessadas, mediante licitação.

À Gol, Nobre solicitou o detalhamento das razões que levaram ao fim da empresa adquirida. E questiona: "Tendo em vista que, por ocasião da compra da Webjet a Gol já havia informado o desejo de renovar a frota, como pode ser dada como justificativa a inadequação da frota para motivar o encerramento das atividades?" O procurador solicita também dados sobre as demissões - total de demitidos, assistência prestada a eles e número de funcionários realocados.

A compra da Webjet foi anunciada pela Gol em julho de 2011, por R$ 310,7 milhões - R$ 96 milhões em dinheiro e R$ 214,7 milhões em dívidas. Em março deste ano, no entanto, a companhia informou que o valor pago ao ex-dono da aérea, Guilherme Paulus, do grupo de turismo CVC, foi revisto para R$ 43 milhões. (Colaboraram Thiago Resende e Yvna Sousa, de Brasília)