Empresas aéreas brasileiras voam para cada vez menos cidades

08/01/2013 - O Estado de São Paulo

Aviação. No momento em que governo fala em reformar 270 aeroportos regionais para impulsionar voos para o interior do País, número de cidades atendidas pelas empresas no ano passado ficou em 122, dez a menos que o número registrado no ano anterior

Marina Gazzoni

No chão. A Team Linhas Aéreas, do Rio, foi uma das pequenas empresas aéreas que pararam de voar no ano passado

Os brasileiros que viajaram de avião no ano passado tiveram menos opções de destinos nacionais para desembarcar. No decorrer de 2012, as companhias aéreas ofereceram voos regulares para 122 cidades brasileiras, dez a menos do que no ano anterior, segundo levantamento da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) feito a pedido do 'Estado'. A redução ocorre em um momento em que o governo anuncia que vai reformar 270 aeroportos no interior.

A perda de destinos na aviação comercial é uma tendência que se intensifica ano a ano. Em 2000, as companhias aéreas brasileiras voaram para 189 cidades, de acordo com dados do anuário da Anac. Ou seja, mais de 50 municípios deixaram de ser atendidos por voos regulares nos últimos 12 anos.

O movimento é um reflexo da concentração das grandes empresas nas rotas entre as maiores cidades e do fechamento de companhias regionais de pequeno porte, afirmou o professor de transporte aéreo da Coppe/UFRJ, Elton Fernandes.

A maioria das cidades que deixaram de ser atendidas por rotas regulares dependia de companhias aéreas regionais. Estão na lista, por exemplo, Santana de Araguaia (PA), que deixou de ser um destino operado pela Sete Linhas Aéreas, e Mossoró (RN), que estava entre as cidades atendidas pela Noar, empresa que suspendeu seus voos em julho de 2011.

A TAM fechou 2012 com voos para 42 destinos, um a menos que em 2011. A empresa suspendeu os voos para Petrolina (PE), mas a cidade ainda é atendida por empresas concorrentes. Já a Gol manteve em 2012 o mesmo número de destinos atendidos no ano anterior - 51.

A Azul/Trip é a única entre as grandes empresas aéreas nacionais que mantém aeronaves específicas para realizar voos regionais. Azul e Trip, que anunciaram sua fusão em maio do ano passado, encerram 2012 com uma oferta de voos para 100 cidades - duas a mais que em 2011.

"A Azul pretende voar para novos destinos", disse o diretor de comunicação da empresa, Gianfranco Beting. Segundo ele, a expansão para novas cidades depende da chegada de novas aeronaves, da integração da malha das duas empresas, da viabilidade econômica da rota e da existência de infraestrutura aeroportuária adequada.

Infraestrutura. A presidente Dilma Rousseff anunciou no dia 20 de dezembro um pacote de estímulo à aviação regional que prevê a reforma de 270 aeroportos. Na semana anterior, Dilma chegou a afirmar, em viagem à França, que pretendia criar 800 aeroportos regionais no País.

Para Beting, da Azul, a reforma de aeroportos regionais é um passo importante, mas não é suficiente para viabilizar voos para 270 cidades do interior. "Não adianta construir um bom aeroporto e continuar a cobrar o combustível mais caro do mundo para aviação. O País precisa de uma visão panorâmica para melhorar a competitividade do setor."

O professor da Coppe/UFRJ concorda. "Se não for economicamente viável, o que na maioria dos casos não é, as empresas não vão voar para todos os aeroportos que serão reformados", disse Fernandes.

A Secretaria de Aviação Civil (SAC) disse, em comunicado ao Estado, que os municípios que serão contemplados com reformas nos seus aeroportos foram escolhidos com base em quatro critérios: integração do território nacional, desenvolvimento de polos regionais, fortalecimento do turismo e acesso a comunidades da Amazônia.

"Procuramos atender aos principais fatores geradores de demanda pelo transporte aéreo, bem como atender aos princípios de universalização do acesso à infraestrutura e integração nacional", disse a SAC.

A secretaria também estuda outras medidas para fomentar a aviação regional, como a isenção de tarifas aeroportuárias em aeroportos que recebem menos de 1 milhão de passageiros por ano e subsídios para empresas que voarem rotas regionais. Segundo a SAC, a questão de subsídios ainda irá a consulta pública.

Mas, para Beting, o setor precisa de desoneração, e não de subsídio. "Em vez de subsídios, preferíamos um revisão tributária e do preço do combustível."