O modelo de concessão de aeroportos é o pior para companhias, diz presidente da TAM

18/12/2012 - Folha de São Paulo

MARIANA BARBOSA
DE SÃO PAULO
ANA ESTELA SOUSA PINTO
EDITORA DE "MERCADO"

Embora esteja otimista com relação aos investimentos que serão feitos com as concessões dos aeroportos à iniciativa privada, o presidente da TAM, Marco Antonio Bologna, considera o modelo prejudicial ao setor.

"Portos e rodovias foram concedidos pelo modelo de tarifa mais baixa", diz. "O único modal que vai ser por outorga [maior valor pago ao governo] é o aéreo".
Para evitar que isso se reflita em aumento de tarifas, o executivo defende o fortalecimento da Anac, "a la Banco Central", para que a agência não sofra pressões.

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Folha - Qual a sua expectativa com relação à concessão de aeroportos?
Marco Antonio Bologna - O setor não foi escutado e não esta sendo escutado agora. Este é o pior modelo para nós. Portos e rodovia foram concedidos por tarifa mais baixa. O único modal que vai ser por outorga é o nosso. Quem paga mais, leva. Queremos aeroportos eficientes, a preço justo.

Vai melhorar?
Com certeza. Daqui a cinco anos os aeroportos serão muito diferentes do que temos hoje.

Mas a coordenação da integração dos modais é muito importante. Não adianta aumentar a capacidade de Guarulhos para 50 milhões de passageiros e continuar todo mundo indo pela marginal. Lembra em 1º de janeiro, a inauguração daquela igreja, com 200 mil pessoas? Fecharam o acesso a Guarulhos. Todo aeroporto tem de estar integrado aos sistemas metroviário, rodoviário e ferroviário.

O sr. teme aumento de tarifas?
O modelo de concessão deixou livre, sem controle da Anac, a cobrança do uso de áreas essenciais. Check-in é área essencial. Preciso ter uma sala VIP. Quando a Infraero passou a considerar tudo comercial, houve majoração de preços.

Não se pode esperar ganho de eficiência que compense a outorga mais alta?
No tempo, vamos ver. O que precisamos ter, se é por esse modelo, é uma agência reguladora poderosa e independente.

E o que precisa para a Anac ser assim?
Ser fortalecida. Vai ter pressão sobre tarifa e ela vai precisar ter autonomia suficiente para equilibrar direitos do consumidor, da infraestrutura, e do provedor do serviço. Temos que ser a la Banco Central. Temos que ser exemplo e não somos, nem na região. Temos uma das piores regulações. Há duas regulações no mundo: a americana e a europeia.

Vamos ensinar esses caras? Como dizia o Comandante Rolim [Amaro, fundador da TAM], quem não tem capacidade para criar tem que ter capacidade para copiar.

A Anac regula para quem?
No momento ela está muito mais voltada a educar o consumidor. O direito do consumidor é legítimo, mas deveria excluir fatores que a gente não controla. Gostaríamos ao menos de ser ressarcidos. Quando aquele cidadão subiu numa luz de aproximação de Congonhas numa sexta-feira (12 de agosto) às 17h30, o aeroporto fechou por duas horas e meia.

Impactamos 1.400 pessoas que queriam embarcar e 1.400 que queriam chegar aqui e foram parar alhures. Somos culpados? Para piorar, ainda somos multados pela Anac. Efeito arrecadatório puro.

O setor vai fechar 2012 com margens bastante negativas. Qual a perspectiva para 2013?
Há uma superpreocupação com a subida nova do câmbio. Essa subida pós-PIB assustou. E já ouvimos alguns setores falando de R$ 2,30. Se isso acontecer, estamos falando de 35% de desvalorização sobre 60% dos nossos custos, uma pancada.

E o combustível?
O petróleo está consolidado numa faixa de US$ 100. Muito difícil que caia. Temos que nos acostumar com esse novo patamar. Enquanto o combustível do automóvel ficou parado, o querosene de aviação subiu 33% em 2011 e 13% este ano, em reais. Com um impacto dessa magnitude, você repensa a capacidade de investimento. Mas é incrível que ninguém fala sobre o custo de capital do setor.

O avião é como uma fábrica.
Quando a gente anuncia 30 aviões: "-Ah, ah, o cara comprou 30 aviões". Só que 30 aviões é US$ 1,5 bilhão, pelo menos. Aí inauguram uma fábrica no Piauí e sai no jornal: "Companhia de celulose investe R$ 1 bi". Avião não é visto como bem de capital, mas de consumo. Trouxemos quatro Boeings-777. "-Ah é, tem primeira classe?" São US$ 200 milhões cada. É uma planta industrial, que gera emprego. É um setor pouco compreendido. É uma mistura de infraestrutura, turismo, comércio, transporte...

Como a TAM se vê?
Transporte modal. Mas na rodovia é diferente. É concessionária, tem pedágio. Se tem fila para Santos no feriado ninguém desce do carro para reclamar. A sazonalidade é compreendida.

O PIB caiu por razões que não exatamente afetam a demanda do setor aéreo. Tem mais gente empregada e mais gente ganhando mais do que ganhava. Isso não deveria significar uma demanda maior?
Ela aconteceu, há uma nova penetração do transporte aéreo. Mas o setor se preparou para uma alta de 3% do PIB. Ainda bem que tem 1,1%, que o emprego está bem, se não estaríamos muito pior. O que mais pega é o choque de custos num momento de menor crescimento.

*Como está o repasse dos custos para a tarifa? *
Com a economia fraca, não conseguimos fazer recomposição de preço. O que estamos fazendo é disciplina de capacidade. Voando com aviões mais cheios, aumentamos a produtividade.

O alto aproveitamento dos aviões é mundial. Há uma década, o setor aéreo americano trabalhava com ocupação abaixo de 70%, 65%, uma destruição de capital muito grande. O europeu também está disciplinado, a Ryan Air (empresa low cost da Irlanda) é exemplo, com 88%, em média.

A TAM está aumentando a ocupação com passagens mais baratas?
Exatamente isso. A passagem mais cara continua no pico, que é o passageiro de negócios que de manhã fala para a secretaria "me compra uma passagem para o Rio".

São esses que pagam as contas?
O que paga a conta é a somatória de tudo. O que não paga a conta é decolar com 30% de assentos vazios. Somos uma indústria que não estoca o que produz. Produzimos cadeiras voadoras. Estamos tendo mais receita. É uma recuperação de rentabilidade natural. E algum repasse de preço está acontecendo também.

Está acontecendo?
Sim, basta ver as tarifas publicadas. Mas também estamos educando o consumidor a planejar a compra com mais antecedência.

Onde é mais difícil trabalhar? Setor financeiro ou aéreo?
São muito parecidos, em termos de gestão de risco. Mas este é um setor de maior risco. A começar pelo fato de que banco não voa. Mas o que muda, significativamente, são as margens.