Com privatização, Infraero vira administradora de lojas

12/02/2013 - O Estado de São Paulo

Restaurantes, livrarias e lanchonetes já são, hoje, a maior fonte de receitas da estatal; atividade aeroportuária dá prejuízo
h
ANNE WARTH, JOÃO VILLAVERDE/BRASÍLIA
- O Estado de S.Paulo

A Infraero terá que contar com receitas oriundas de atividades como restaurantes, estacionamentos e livrarias em aeroportos para fechar suas contas, já neste ano. Com a concessão de três de seus principais aeroportos no ano passado e outros dois até o fim de 2013, a estatal vai perder metade de seu faturamento, e começar uma era mais enxuta em 2014.

Restaurantes, lanchonetes, estacionamentos e livrarias, por exemplo, já são, hoje, a maior fonte de receitas da estatal. Em 2011, dado mais recente, esses serviços - chamados de não-regulados - renderam R$ 853 milhões aos cofres da Infraero. Já a atividade de embarque doméstico deu um prejuízo de R$ 474 milhões.

Uma das novas fontes de receita deve ser a concessão de áreas para hotéis e "business centers" à empresas privadas, que pagarão aluguel à Infraero. Os casos mais recentes são os dos terminais de Santos Dumont (RJ), Confins (MG) e, nos próximos meses, de Porto Alegre (RS).

Modernização. O ministro da Secretaria de Aviação Civil (SAC), Wagner Bittencourt, afirmou ao Estado que o governo federal tem "um programa de modernização da Infraero", que será reestruturada como consequência direta da nova realidade do País. "Ela tem algumas dificuldades próprias de empresa do setor público, mas também tem qualidades. Falamos de uma das maiores operadoras aeroportuárias do mundo", disse.

Segundo o ministro, a própria participação da estatal nos aeroportos concedidos à iniciativa privada vai permitir que a Infraero "fortaleça" seu conhecimento em engenharia e produtividade nas ações típicas dos aeroportos, para depois transferir aos terminais que continuarão sob sua gestão.

Resultados. A companhia ainda registrou lucro líquido em 2012, mas diretores da estatal admitem que neste ano o resultado deve ficar próximo de zero. O resultado contábil do ano passado ainda não foi divulgado, mas segundo fontes na Infraero, foi muito próximo do lucro líquido de R$ 370,8 milhões de 2011.

O faturamento da empresa pública foi de R$ 3,9 bilhões em 2011, o dado mais recente. Pouco mais de um terço desse valor veio dos aeroportos de Guarulhos (SP), Brasília (DF) e Campinas (SP), cujas receitas não são repassadas à estatal desde novembro. A partir de 2014, com a concessão dos terminais do Galeão (RJ) e Confins (MG), o faturamento terá caído pela metade.

Com isso, a estatal também perde praticamente toda a sua capacidade de investimento. Já neste ano, a Infraero vai entrar com apenas R$ 500 milhões da carga de R$ 1,8 bilhão em investimentos previstos nos aeroportos. O restante será pago com recursos do Fundo Nacional de Aviação Civil (Fnac), formado com o dinheiro obtido pelo governo com as privatizações dos terminais.

Reduzir o tamanho da estatal foi uma decisão da presidente Dilma Rousseff. "A presidente quer uma nova Infraero a partir de 2014", disse um auxiliar de Dilma no Palácio do Planalto. O objetivo central das concessões não era o de reduzir o tamanho da estatal, mas de dinamizar a operação dos maiores aeroportos do País por meio da concessão à iniciativa privada.

Propostas. Bittencourt fala em modernização da Infraero