Gol tem prejuízo de R$ 1,5 bilhão e vai reduzir ainda mais oferta de assentos

27/03/2013 - O Estado de São Paulo

Em dois anos, perdas acumuladas chegam a R$ 2,2 bilhões; presidente da companhia informou que a estratégia de reduzir oferta de assentos, já adotada no ano passado, vai continuar este ano e, possivelmente, será estendida também a 2014
Antonio Pita / RIO

FABIO MOTTA/ESTADÃO–11/10/2012

Demissões. Para cortar custos, a Gol já reduziu, nos últimos 4meses, 7% do seu quadro de empregados, incluindo 850 funcionários da Webjet

Com prejuízos que somam, nos últimos dois anos, R$ 2,2 bilhões, a Gol acendeu o sinal de alerta. A companhia terá, em2013,um dos anos mais difíceis desde a sua criação, em 2001. E a estratégia para tentar reverter o quadro será uma redução ainda maior de custos, que deve se refletir em revisão da malha aérea, diminuição da oferta de assentos e, em última instância, novas demissões, segundo analistas.

No ano passado, a Gol registrou prejuízo de R$ 1,512 bilhão, o dobro do registrado em 2011. A dívida total da companhia também cresceu, chegando a R$ 5,191 bilhões, 4% superior ao total do ano anterior. O cenário desfavorável na economia local, com baixo crescimento e a consequente retração do mercado de aviação civil, atingiu diretamente a companhia.

"Foi, sim, um prejuízo maior que o esperado. Não é o fim do mundo, mas acendeu a luz amarela intensa", avalia Erivelton Pires, presidente da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Transporte Aéreo (SBTA). Segundo ele, a empresa ainda precisará de "muitosmeses" para buscar rentabilidade em suas operações. "É um prejuízo difícil de recuperar."

Analistas de bancos internacionais também destacaram a piora do cenário para o grupo. Para o Bank of America Merrill Lynch, o prejuízo de R$447,1 milhões no quarto trimestre foi 114% maior que o estimado pela instituição. Já o JP Morgan manteve recomendação neutra para a Gol, justificando ainda não ter "indicação de que o cenário de demanda tenha melhorado".

Entre os fatores que contribuíram para a piora da empresa estão a depreciação do real frente ao dólar, preços mais altos de combustíveis e ainda as taxas maiores em aeroportos. A desvalorização da moeda impactou diretamente o valor dos financiamentos e o leasing de aviões, por exemplo.

"A empresa talvez consiga respirar um pouco no final do ano, com a melhora do crescimento da economia. Isso poderá significar uma redução do prejuízo, mas ela vai continuar tendo prejuízo", avalia Respício Espírito Santo, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Slots. Para os analistas, a Gol ainda sofre efeitos da compra da Webjet, em 2011. A aposta, naquele momento, seria a herança dos slots (horário para uso dos terminais de embarque) nos principais aeroportos do País. "Com o cenário ruim, os slots não fizeram valer o investimento. Foi um mau negócio", avalia Erivelton Pires. "Isso está refletido nos prejuízos."

A empresa deve apostar ainda mais fortemente na redução de custos para tentar uma recuperação, embora a margem de corte esteja cada vez menor. "Há anos as empresas já reduzem custos. Não têm mais gordura para queimar. A solução é voar com aviões maiores, cortar programas, readequar a malha. É um cenário difícil", avalia o consultor de aviação André Castellini.

A empresa deve recorrer à economia de combustível – o alto consumo das aeronaves antigas foi determinante para o encerramento das operações da Webjet, no ano passado. Outra medida será uma redução mais forte da oferta de assentos nos voos, especialmente naqueles de menor rentabilidade. "É difícil dizer se a redução da oferta será necessária somente ao longo de 2013. Mas acredito que sim, teremos a necessidade de estender ao longo do próximo ano", afirmou o presidente da Gol, Paulo Kakinoff, ao comentar os resultados do balanço.

As medidas, de acordo com o analista Erivelton Pires, podem se refletir em novos cortes de funcionários. Nos últimos quatro meses, a empresa já cortou cerca de 7% do quadro de funcionários, entre eles 850 colaboradores da Webjet, que já haviam sido demitidos e readmitidos por ordem judicial. "Redução da oferta se traduz em revisão de malha, com a desativação de aeronaves e, possivelmente,demissões. Não é tempo de alardes, ainda, mas é um período de ajuste amargo. A empresa vai ficar mais tempo demitindo sem recontratar", afirma Pires. / COLABOROU BETH MOREIRA