Após 9 anos de alta, aviação fica estagnada no país

08/09/2013 - O Globo

Corte de voos e aumento de tarifas travam crescimento, dizem especialistas. Desde 2003, demanda triplicou
Danielle Nogueira
danielle.nogueiraoglobo.com.br

O corte da oferta de voos e a alta nos preços das passagens aéreas farão com que a demanda por voos domésticos fique estagnada este ano, algo que não ocorre desde 2003. Daquele ano até 2012, o mercado doméstico triplicou, impulsionado pelo aumento da massa salarial, facilidade de crédito, valorização do real e queda nas tarifas. Hoje, o cenário é o oposto, com economia fraca, juros em ascensão e dólar alto, pressionando, assim, os custos das aéreas.

O indicador oficial da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para medir a demanda do setor, o mais usado na indústria mundial da aviação, é o chamado RPK, que multiplica o número de passageiros pelos quilômetros voados. Ele é melhor que a simples conta de passageiros embarcados e desembarcados porque leva em consideração a distância do voo. Assim, há um equilíbrio na comparação entre empresas que operam voos curtos e as que operam voos mais longos.

Por esse indicador, o Brasil fechou 2012 com 87 bilhões de passageiros-quilômetros voados, uma alta de 234% em relação a 2003. Em 2013, o número deve se repetir, nas projeções da consultoria Bain & Company. A principal razão para a estagnação é a redução da oferta de voos. Nos primeiros sete meses de 2013, a oferta caiu 5,11% ante igual período de 2012.

A queda reflete a política de TAM e Gol, que detêm 75% do mercado. As duas estão cortando voos menos rentáveis, para elevar sua taxa de ocupação. A ideia é que os aviões voem menos e mais cheios, reduzindo o consumo de combustível.

- Com a redução da oferta, é surpreendente que a demanda se mantenha - diz André Castellini, sócio da Bain.

Além da redução da oferta, Lucas Arruda, sócio da consultoria Lunica, afirma que o mercado em geral teve leve alta de concentração no primeiro semestre deste ano, após a compra da Webjet pela Gol e a fusão entre Azul e Trip em 2012. Mas a tendência, com o corte de voos das duas maiores empresas do setor e o avanço de Azul e Avianca, é que o movimento de desconcentração permaneça.

Levantamento da Lunica mostra que houve desconcentração em nove das dez principais rotas domésticas do país nos últimos anos. O levantamento comparou a oferta de assentos em voos de ida e volta por empresa, entre as que operam tais rotas, nos meses de agosto de 2008 e agosto de 2013. A principal razão para essa desconcentração, segundo o especialista, foi o início de operação da Azul, em dezembro de 2008, e o crescimento da Avianca.