Galeão tem o desafio de atrair aéreas e ampliar voos

22/09/2013 - O Globo

O nó da infraestrutura
Movimentação no aeroporto carioca este ano é metade da de Guarulhos

DANIELLE NOGUEIRA
danielle.nogueira@oglobo.com.br

Eles têm o mesmo tamanho de pátio e igual número de pistas. As semelhanças param por aí. Separados por cerca de 350 quilômetros, os aeroportos de Guarulhos, em São Paulo, e Galeão, no Rio, guardam enormes diferenças, apesar de serem as duas principais portas de entrada do país. O terminal paulista tem quase o dobro do número de voos de seu rival carioca. São 5.360 por semana, em média, contra 2.800 no Galeão. Guarulhos também tem o dobro do número de companhias aéreas (49, ante 24 no terminal carioca) e movimentou o dobro do número de passageiros nos primeiros sete meses do ano. Foram 20 milhões de pessoas lá e dez milhões de pessoas aqui.

O desafio do consórcio que vencer o leilão de concessão do Galeão será justamente o de atrair mais empresas e passageiros, oferecendo um serviço de maior qualidade. A licitação está oficialmente marcada para 31 de outubro, mas o governo já trabalha com a possibilidade de fazer o leilão na primeira quinzena de novembro.

— Para a administração pública, tanto faz se uma carga é embarcada no aeroporto A ou B ou se um passageiro embarca no aeroporto A ou B, quando os dois são controlados pelo governo. O investidor privado vai trazer para o Galeão uma visão de negócios para promover o aeroporto como uma solução para o viajante. Ele poderá negociar com as empresas horários estratégicos para pouso e decolagem, incentivando a vinda de aéreas, especialmente internacionais — diz Martha Seillier, diretora de Política Regulatória da Secretaria de Aviação Civil (SAC), órgão que coordena processo de licitação.

Apoiado na tese de que os dois aeroportos concorrem entre si nas rotas internacionais, o governo limitou a participação de empresas vencedoras de leilões anteriores a 15% do consórcio que disputar Galeão e Confins (MG). Foi a forma encontrada para que as companhias que estão à frente de Guarulhos — licitado em fevereiro, ao lado dos aeroportos de Brasília e Campinas — não controlem o Galeão, o que poderia, na avaliação do governo, inibir a concorrência e o processo de ampliação da oferta de voos.



Num momento em que o setor de aviação passa por uma crise, com a pressão de custos e demanda em desaceleração, Guarulhos tem mostrado que tem fôlego para crescer, embora enfrente restrições de infraestrutura. Os 20 milhões de embarques e desembarques entre janeiro e julho de 2013 representam aumento de 7% em relação a igual período do ano passado. No Galeão, a movimentação de passageiros ficou estagnada, apesar de a capacidade do aeroporto comportar a demanda com sobra.

— Enquanto Guarulhos está um ano na frente, Galeão está um ano atrás. O aeroporto de São Paulo deve chegar a 35 milhões de passageiros este ano, o que só aconteceria em 2014 nas minhas previsões. Já o Galeão deve repetir o dado de 2012 (de 17,5 milhões de passageiro) — diz Elton Fernandes, professor de Transporte Aéreo da Coppe/UFRJ.

CONECTIVIDADE, O TRUNFO DE SP
O maior dinamismo de Guarulhos tem relação com sua geografia. O aeroporto fica no estado de São Paulo, polo econômico do país. É compreensível que a demanda por viagens a lazer e a negócios seja maior que no Rio. Mas não é só isso. Guarulhos conseguiu implementar uma malha aérea que o transformou no principal hub (centro de distribuição de voos) da América Latina. A partir de lá é possível viajar, em ligações diretas, para 156 destinos, sendo 103 domésticos e 53 no exterior. O Galeão só atende 54 cidades com voos diretos: 24 no Brasil e 30 fora do país.

— A conectividade é fundamental na estratégia das empresas, pois elas precisam ganhar escala para ter competitividade. Se há demanda e ampla alimentação de voos no mesmo lugar, elas unem o útil ao agradável. Caberá ao consórcio que ganhar o Galeão ter criatividade para atrair mais companhias. A ociosidade do Galeão é sua principal vantagem — avalia Jorge Leal, professor de Transporte Aéreo da Escola Politécnica da USP.

Este ano, cinco estrangeiras passaram a operar em Guarulhos (entre elas a equatoriana Tame e a americana US Airways). No Galeão, só a Ethiopian inaugurou um voo semanal. E a TAM deixou de voar de lá para Paris e Frankfurt em agosto. Para Fernandes, da UFRJ, é um movimento típico de crise:

— Quando há baixo crescimento econômico, a tendência é que as empresas corram para os polos centrais e saiam da periferia. Guarulhos tende a se beneficiar desse processo e o Galeão, perde. Mas isso é conjuntural.

O maior gargalo de Guarulhos é a limitação de pátio. Não é possível elevar muito o número de voos porque não há espaço para que os aviões estacionem enquanto aguardam uma nova decolagem. Por isso, os US$ 3 bilhões que o consórcio que assumiu o aeroporto se comprometeu a investir até a Copa de 2014 inclui a ampliação do pátio. Hoje, há 61 posições (ou vagas) para os aviões. Com as obras, serão mais 54 até maio do ano que vem.

— Nosso objetivo é fortalecer o hub internacional. Não queremos só trazer mais companhias, mas queremos companhias que agreguem valor ao aeroporto — diz Fernando Sellos, diretor comercial de Guarulhos.

eliária andrade/30-4-2013

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