Mercado de aviação encolhe no Brasil

24/09/2013 - O Estado de S.Paulo

Desempenho ruim dos voos domésticos no País afeta projeções do setor aéreo mundial

Jamil Chade
CORRESPONDENTE / GENEBRA

Depois de anos de expansão, o mercado doméstico de passageiros no Brasil sofre uma contração e, junto com o freio em outras economias emergentes, acaba contribuindo para afetar o setor aéreo mundial. Dados divulgados ontem pela Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata) apontam que, no primeiro semestre, o número de passageiros domésticos no Brasil caiu 0,6%.

A entidade reduziu suas projeções de lucros e de renda para 2013, apontando para ganhos de US$ 11,7 bilhões – US$ 1 bilhão a menos que as projeções iniciais. O custo elevado do petróleo, por conta da crise na Síria, e resultados decepcionantes em alguns países emergentes, entre eles o Brasil, seriam as causas dessa revisão. "Os mercados emergentes sofreram uma desaceleração", admitiu Tony Tyler, presidente da Iata.

A realidade brasileira contrasta com a média da expansão mundial. Segundo ele, o número de passageiros no mundo deve crescer em 5% em 2013, abaixo dos 5,3% de 2012. Mas, pela primeira vez, o número de passageiros vai superar a marca de 3 bilhões de pessoas.

Brasil. Diante do fraco desempenho do Brasil, a Iata estima que toda a média latino-americana para o ano acabará comprometida. Em 2013, as projeções apontam que o setor aéreo na região terá lucros de US$ 600 milhões,um dos mais baixos do mundo, repetindo os resultados de 2012. Só em 2014 é que o setor teria um salto nos lucros, passando a US $ 1,1 bilhão.

"Masumamelhoria mais ampla está sendo impedida por vários fatores, entre eles a fragilidade econômica do Brasil", apontou a Iata."A fraqueza econômica no Brasil está sendo compensada por melhorias de desempenho como resultado de reestruturações e disciplina na capacidade", disse a Iata.

Segundo a entidade, as rotas entre a América do Sul e os EUA continuam a se expandir. Mas as rotas ligando outras regiões emergentes seriam mais vulneráveis e dependem ainda dos ciclos de crescimento dessas regiões. Ainda assim, a demanda deverá crescer em toda a região em cerca de 6%.

Ásia. Na Ásia, a desaceleração da Índia é o que mais impacta no setor aéreo regional. O segmento ainda terá lucros de US$ 3,1 bilhões. Mas US$ 1,5 bilhão abaixo das taxas de 2012. Já na China, o primeiro semestre mostrou uma expansão de 12% no mercado doméstico. Mas distante do crescimento de mais de 20% dos últimos anos. Na Rússia, outro país do Bric, a expansão no primeiro semestre foi de 10%.

A desaceleração de alguns dos emergentes ocorre no momento em que tanto o mercado americano quanto o europeu dão sinais de estabilização. "O crescimento de mercados emergentes como Índia, Brasil e, de certa forma, a China, foi mais lento do que se antecipava", disse Tyler. "Mas isso foi de uma certa forma equilibrado por melhorias na economia dos EUA e pela estabilização da Europa."

Na América do Norte, os lucros no setor serão de US$ 4,9 bilhõesem2013,comaltade2% na demanda de passageiros. Para 2014, as projeções são de lucros de US$ 6,3 bilhões – um recorde para o setor. Na Europa, os lucros devem chegar a US$ 1,7 bilhão, quatro vezes mais do que em 2012. Para 2014, o valor deve dobrar.

Para a Iata, o bom resultado dos países ricos em 2014 deve permitir que o setor atinja lucros de US$ 16,4 bilhões no próximo ano, que também seria o maior da história.

● Turbulência

"O crescimento de mercados emergentes como Índia, Brasil e, de certa forma, a China, foi mais lento do que se antecipava. Mas isso foi de certa forma equilibrado por melhorias na economia dos Estados Unidos e pela estabilização da Europa."
Tony Tyler
PRESIDENTE DA IATA

Aéreas temem caos no País na Copa do Mundo

As maiores empresas aéreas do mundo cobram do Brasil uma resposta em relação ao que será feito dos aeroportos do País para a Copa do Mundo, que ocorrerá em menos de um ano. Tony Tyler, presidente da Associação Internacional de Transporte Aéreo, deixou claro ontem que o setor teme por um caos diante do fluxo de passageiros entre as 12 cidades."Estamos preocupados", admitiu Tyler, que representa as 280 maiores companhias aéreas do mundo. "As empresas estarão prontas para garantir o serviço", insistiu. "Mas estamos em diálogo com o governo brasileiro para saber exatamente o que vai ocorrer."

A Iata tem mandado delegações para dialogar com Brasília justamente para entender quais são os planos do governo no que se refere aos aeroportos. Para Tyler, ainda há tempo para que os aeroportos passem pelas reformas necessárias. Mas a entidade admite que, logo, esse tempo terá sido esgotado.

Se as previsões do governo se confirmarem, o Brasil receberia durante o Mundial cerca de 600 mil turistas estrangeiros. Com a Copa ocorrendo em 12 cidades, os próprios organizadores chegam a falar no uso de aeroportos militares, pelo menos para as equipes e para o staff da Fifa. Em meados do ano, o governo indicou que o custo da reforma dos aeroportos para a Copa do Mundo aumentou em R$ 1,6 bilhão. /J.C.