Air France vê risco de excesso de capacidade

26/01/2015 - Folha de São Paulo

Diretor para o Brasil diz ver 'tarifas estranhas', mais baixas, o que afeta receita do setor

FELIPE MAIA

ENVIADO ESPECIAL A PARIS

Com a economia enfraquecida e o investimento de companhias aéreas internacionais em novos voos saindo do Brasil, há risco de excesso de capacidade de assentos nas viagens para a Europa em relação à demanda. A afirmação é de Hugues Heddebault, diretor-geral da Air France-KLM para o país.

Isso é bom para os passageiros, já que as tarifas tendem a cair, mas é má notícia para a receita das companhias. Heddebault diz que começa a ver "tarifas estranhas" para as viagens entre América do Sul e Europa. "Outro dia, nós vimos uma a US$ 544. E não estou falando daquela da KLM", afirma o executivo, brincando.

Ele se refere a um erro no site da companhia em dezembro que fez com que passagens para a Europa fossem vendidas a menos de R$ 500.

O excesso de capacidade já é uma realidade para trechos entre Europa e América do Norte e também a Ásia, mercado em que há uma intensa competição com companhias como a Emirates.

"Da América do Sul para a Europa isso é limitado, mas já começa a ser um pouco irritante. Há um aumento no número de assentos nossos, da British Airways, da Swiss e da Royal Air Maroc. Se você quiser que eles sejam preenchidos, precisa fazer ótimas tarifas", diz.

Essa realidade global fez com que, em julho, a Air France revisasse para baixo suas metas de receita para 2014 –nos primeiros nove meses do ano passado, a companhia teve receita de € 18,7 bilhões, com queda de 3,6% em relação à do mesmo período de 2013, principalmente por causa de uma greve de pilotos que durou duas semanas em setembro.

A expectativa de baixa na economia brasileira também fez com que a empresa francesa fizesse uma revisão nos seus planos para o Brasil. O projeto era aumentar o número de voos saindo de Brasília para Paris de três para cinco por semana em julho, mas isso foi adiado para outubro.

"A demanda está aumentando, mas não tanto gostaríamos nem quanto costumava ser", diz Heddebault.

Um fator que pode ajudar as companhias a equilibrar as contas são as quedas no preço do petróleo no mercado global. Entretanto, para o executivo, ainda é cedo para dizer se isso vai influenciar no preço das passagens.

"Uns 20% do combustível que usamos hoje foi comprado há dois anos, outros 20% há seis meses. Leva um tempo até isso ter impacto nas passagens, então é um pouco cedo para saber", diz.

Há duas semanas, a Air France começou a voar para o Brasil com uma aeronave B777 com a cabine remodelada. As principais mudanças estão na classe executiva, que traz mais faturamento para a companhia, já que os passageiros pagam mais caro e viajam regularmente.

Nessa classe, a companhia não chama mais os lugares de "assentos", mas, sim de "suítes", porque as poltronas, que viram camas, ficam em uma espécie de casulo, separadas.
O jornalista viajou a convite da Air France