Aéreas ampliam voos internacionais para reduzir risco cambial

28/04/2015 - O Globo

Empresas adotam novas rotas e centros de distribuição para elevar ganho em dólar

GLAUCE CAVALCANTI

glauce@oglobo.com.br

Com 60% dos custos atrelados ao dólar, as companhias aéreas nacionais se esforçam para elevar a receita em moeda estrangeira. Precisam fazer frente a obrigações em dólar em paralelo à volatilidade do real. A Azul avalia iniciar mais dois voos para a Flórida em outubro e reforçou as operações para os EUA em períodos de alta temporada. A Gol ampliou o acordo de code-share (compartilhamento de voos) com a Air France/KLM e passou a vender diretamente bilhetes para destinos de França e Holanda. Em breve, incluirá Inglaterra, Itália e Alemanha no portfólio de destinos. Já a TAM anunciou um novo hub (centro de distribuição de rotas) de voos nacionais e internacionais no Nordeste para o fim de 2016.

bloomberg/dado galdieri/31-3-2015

Flórida. Jato da Azul pousa no Rio: forte no regional, aérea amplia voos para EUA


Esses projetos são estratégias para aliviar a pressão cambial no caixa das empresas, conta Mário Bernardes Junior, analista da BB Investimentos:

— A alta cambial é oportunidade para elevar as viagens internacionais. É um nicho de passageiros menos suscetíveis à variação de preço e ciclos econômicos, fatores que pressionam a demanda.

'A PRESSÃO TARIFÁRIA EXISTE'

Com a alta do dólar nos últimos meses, as empresas devem trabalhar para manter a margem de lucro e focar nas rotas mais rentáveis, ajustando a malha de voos no Brasil e no exterior, explica o analista:

— O preço médio da passagem no Brasil está caindo e é preciso voar com os aviões cheios. O problema da guerra tarifária parecia ter sido superado. Com a acomodação da demanda, a briga por preço voltou. Mas havia gordura a ser queimada.

A Azul, que iniciou suas operações internacionais em dezembro, com dois voos diários ligando Campinas a Fort Lauderdale/ Miami e a Orlando (EUA), avalia ter mais dois voos para a Flórida a partir de outubro, diz o presidente Antonoaldo Neves:

— Anunciamos Nova York para outubro, mas mudamos para março de 2016. Para um voo diário para Nova York, teríamos que ter dois aviões na ligação noturna entre Brasil e EUA, cada um voando num sentido. A Flórida aceita voo diurno, permitindo fazer bate e volta. Com dois aviões, teremos o dobro da oferta que teríamos para Nova York.

A decisão, diz ele, é exemplo da permanente gestão da malha aérea. A Azul reforçou a oferta para a alta temporada. Terá frequências adicionais nas férias de julho para Orlando. E, de 2 de dezembro e 14 de fevereiro de 2016, saídas extras para Miami. Neves reconhece que a queda do preço médio das passagens no Brasil é uma realidade:

— A pressão tarifária existe. É bom, permite que mais gente voe. Mas tem que ter rentabilidade. Metade dos clientes em Viracopos já vem de outras cidades do país: 25% do interior de São Paulo e 25%, da capital paulista. Isso fortalece o conceito de hub da Azul em Campinas.

A Azul não tem planos de comprar a portuguesa TAP, diz:

— Quem acompanha de perto o processo é David Neeleman, criador da Azul. E há, claro, interesse pelas sinergias com o Brasil.

LINHA PARA CUBA

A Gol planeja fechar 2015 com 16% da receita vindo da área internacional, ante 13% hoje, diz Alberto Fajerman, diretor de Relações Institucionais e Alianças da empresa. A voadora chegou a destinos da Europa, com a expansão do code-share com Air France/KLM. A Gollog, unidade de transporte de carga da Gol, também fechou acordo com o grupo estrangeiro.

— As companhias têm alta dependência do dólar, com combustível, leasing e outros custos em moeda americana. Quando o dólar sobe, o custo em real aumenta — explica Fajerman, destacando que a Gol tem dois terços da receita internacional garantidos por operações próprias, sobretudo para América do Sul e Caribe, enquanto EUA e Europa são atendidos por parcerias.

A Gol opera voos para 16 destinos no exterior e obteve permissão para iniciar uma linha para Cuba. No começo de 2014, passou a operar para Tobago. Em julho, voará de São Paulo para Mendoza, Argentina. E pediu autorização para voar Natal-Buenos Aires no segundo semestre.

A TAM anuncia até dezembro em que cidade do Nordeste (Fortaleza, Natal ou Recife) ficará seu novo hub, projeto de US$ 1,3 bilhão. A ideia é gerar demanda para o Nordeste e ampliar voos do grupo entre América do Sul e Europa.

Este ano, a TAM começou a operar novo voo entre Recife e Buenos Aires e inaugurou uma linha para Toronto, no Canadá. Em junho, ligará Brasília a Orlando e Buenos Aires. No mês seguinte, a linha Brasília-Miami será diária. Já em outubro, inicia a rota São Paulo-Barcelona.