RN quer voltar a crescer como ‘porta de entrada’

11/07/2015 - Tribuna do Norte – RN

Renata Moura

Enviada à Buenos Aires

"Cara de Europa", frio de arder os dedos e tango por todos os lados. Buenos Aires, capital da Argentina, é o destino de cada vez mais potiguares em viagens pelo mundo. Mas é como polo emissor de turistas que essa e outras cidades do país têm ganhado mais a atenção do Rio Grande do Norte nas últimas semanas. O foco é aumentar o apetite dos viajantes pelo estado, após um tombo de 97% nas "chegadas" deles pelo RN.

Para se ter ideia do cenário, o primeiro voo direto entre os destinos, inaugurado sábado (4) pela GOL, transportou cerca de 80 passageiros do Aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires, para o aeroporto Governador Aluízio Alves, em São Gonçalo do Amarante.


Ana Paula Fernandes, 27: Primeira viagem internacional foi realizada sábado (4) para Buenos Aires

O número – formado majoritariamente por argentinos – significa o dobro dos turistas do país vizinho que usaram o RN como porta de entrada no Brasil durante todo o ano de 2014. Foram 43, segundo o anuário 2015 do Ministério do Turismo, publicado esta semana. Em 2012, 1.801 fizeram essa opção, o maior volume nos últimos oito anos. A queda foi de 97,6%, no período.

A redução também se refletiu na fatia que esses turistas representam do total de estrangeiros que escolheram o RN como porta de entrada: no ano passado, com Copa do Mundo de Futebol e Natal entre as sedes dos jogos, eles foram 0,11% do total, entre janeiro e dezembro. Em 2012, representaram 4,4%.

Os dados servem de termômetro para medir o turismo, embora não contabilizem o total de turistas argentinos que passou pelo estado. Ficam de fora da estatística os que desembarcam em outros estados e entram depois no RN em voos domésticos. De forma global, o número de estrangeiros despencou nos último anos no mercado potiguar.

"Com certeza (a queda) foi falta de divulgação", diz o secretário de Turismo, Ruy Gaspar, que assumiu o cargo no início deste ano junto com o novo governo.Em estados vizinhos, como Ceará e Pernambuco, a movimentação de argentinos cresceu. Em nenhum dos três estados, todos sedes da Copa, houve jogos da seleção argentina.

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Divulgação

"Talvez estejam faltando mais informações de Natal em si. Mais informações sobre infraestrutura, serviços, excursões e algo que distinga mais a cidade de outros destinos, como Maceió (AL), Fortaleza (CE) ou Salvador (BA)", diz o empresário argentino Juan Matias Aguirre, 37, que já passou por Salvador, Morro de São Paulo e Costa do Sauípe, na Bahia, em 2012, e se prepara para desembarcar pela primeira vez no Rio Grande do Norte, em outubro.

O destino foi escolhido após um dos irmãos ter constituído família em Natal. A cidade será um dos destinos das férias com a mulher, Paula, os dois filhos e outros parentes. O grupo também planeja visitar Pipa. "Os argentinos gostam muito das praias do Brasil. São destinos muito caribenhos e o boca a boca ajuda a propagar isso. Em Natal, Praias e voos diretos são pontos positivos, mas é preciso aumentar a publicidade e destacar seus atrativos e ofertas", diz Aguirre.

Bate-papo – RUY GASPAR

Secretário estadual de Turismo

Qual o impacto do voo direto para Buenos Aires na economia do RN?

A retomada do mercado internacional é um sonho realizado, ainda mais com um voo direto. Esperamos aumentar bastante o número de argentinos e obter um impacto de mais de R$ 13 milhões por ano na economia.

Esse número baseia-se em que?

Calculo que os gastos de hospedagens mais alimentação, passeios, compras em shoppings, artesanatos, ambulantes etc. deixem uma receita per capita de R$ 300 por dia. Imaginando 120 turistas em média, por dia, e durante 365 dias, chegamos a este valor, que ainda acho que será maior.

Qual é o movimento financeiro global com o turismo? O que são os R$ 13 milhões diante do todo?

O turismo movimenta aproximadamente R$ 2,1 bilhões . Estes R$ 13 milhões se somam ao que já recebemos. Parece pouco, mas a expectativa positiva que gera para o trade de retomada do turismo internacional é significativa, além de dinheiro novo entrando na economia.

O número de argentinos tendo o RN como porta de entrada no Brasil caiu nos últimos dois anos. O que motivou essa queda?

Sem dúvida foi falta de divulgação e promoção do Estado.

Como avalia o fluxo de argentinos hoje no estado e em quanto pretendem ampliá-lo?

Muito baixo. Os argentinos são número 1 no Brasil, então podemos crescer bem.

Ainda há turistas que descartam Natal por achar que tem muita prostituição – uma imagem que rodou o mundo anos atrás – e a infraestrutura ruim. Reverter essa percepção é um desafio?

Turismo não existe sem limpeza pública e segurança. Temos que trabalhar bem isso; prostitutas, então, nem se fala. O trabalho é atrair famílias.

No sentindo inverso: ter mais potiguares viajando para a Argentina, a partir desse voo, aquece a economia potiguar? Quais são as expectativas?

Não aquece nossa economia. Aquece a Argentina, mas é uma vantagem para a população do nosso Estado.

Turistas optam por Pipa em busca de tranquilidade

"Uma aterrissagem a menos faz diferença. Ter que esperar malas, despachar malas é cansativo", diz a veterinária argentina Maria Victoria, 38, que passou 10 dias em Pipa, no litoral Sul potiguar, com a família, na primeira viagem ao Brasil. Ela estava entre os passageiros do voo inaugural para Buenos Aires. Cerca de 5 horas e 30 minutos depois, chegou ao aeroporto de destino – gastando quatro horas a menos do que no sentido inverso, em um voo com escalas. As férias no Rio Grande do Norte foram decididas três meses antes. "Minha irmã conhecia Pipa e nos contou como era. Por isso escolhemos o destino", disse. Natal ficou fora do roteiro de passeios, mas serviu de hospedagem por outros dois dias. "Li que havia muita prostituição e não gostei. Viemos de um lugar tranquilo e era isso o que queríamos", disse Victoria.

Voos

Duas aeronaves deverão operar hoje novos voos diretos, partindo, praticamente no mesmo horário – por volta das 23h55 – do Aeroporto de Ezeiza em Buenos Aires e do Aeroporto Governador Aluízio Alves, em São Gonçalo do Amarante. "A nova rota está em linha com a estratégia da companhia de ampliar e reforçar a presença internacional, principalmente em destinos da América Latina", afirma Claudio Borges, diretor de Planejamento de Malha da GOL. Só neste início de semestre, a companhia também passou a oferecer opções sem escalas de Brasília a Buenos Aires, de São Paulo a Mendoza e do Rio de Janeiro a Rosário, elevando para 150 o número de viagens que realiza entre cidades brasileiras e argentinas. O Rio Grande do Norte é a terceira base da empresa no Nordeste com voos diretos para Buenos Aires. Esse tipo de viajem já estava disponível no Ceará (Fortaleza) e na Bahia (Salvador).

*A jornalista viajou à convite da GOL.