Aeroporto de São José sofre com concorrência, diz especialista


Proximidade com Guarulhos inviabiliza operação de companhias aéreas

01/04/2016 - Meon Notícias

Henrique Macedo

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Aeroporto de São José passou por reforma com investimento de R$ 16 milhões
Flávio Pereira/Meon

Um grande saguão vazio. Essa é a situação do Aeroporto Professor Umberto Stumpf, em São José dos Campos. Nenhuma companhia aérea opera mais na cidade considerada o berço da indústria aeroespacial brasileira. A TAM, que tinha voos regulares para Brasília, comunicou que vai deixar a cidade a partir do dia 1º de junho. Em dezembro de 2014 foi a Azul que encerrou a operação no aeroporto de São José após quatro anos. A empresa alegou que o baixo movimento de passageiros tornava a manutenção das atividades inviável.

A Prefeitura de São José dos Campos, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, informou que "irá procurar a empresa [TAM] e a Secretaria de Aviação Civil para tentar reverter a decisão. A prefeitura também continuará trabalhando em parceria com a Infraero, administradora do aeroporto, para atrair outras empresas interessadas em operar em São José".

Nos últimos oito anos, o Aeroporto de São José perdeu voos comerciais de quatro companhias: Azul, Gol, OceanAir e TAM.

Obras

Em 2013, a Infraero investiu cerca de R$ 16 milhões em uma reforma que aumentou a capacidade atual do terminal de passageiros, passando de 864 m² para cerca de 5 mil m². A área de embarque recebeu novos portões e a de desembarque a instalação de duas esteiras de restituição de bagagem. Também foram instalados novos balcões de check-in e criadas 320 vagas de estacionamento. 

Para o professor titular do Departamento de Transporte Aéreo do ITA, Cláudio Pinto Alves, o problema de São José é a proximidade com Guarulhos, o que acaba inviabilizando a permanência das companhias aéreas. "O Aeroporto Internacional de Guarulhos é o maior terminal do Brasil, um polo gigantesco que irradia voos para todo lugar do mundo. A vocação de São José tem um lado industrial, uma vocação militar, associada ao DCTA e ensaios em voo, tem atividade razoável nesse campo. No passado, tentou-se transformar São José no aeroporto-indústria, fazer com que as empresas ficassem no entorno, mas acabou não se viabilizando. É um conceito que só Confins (MG) conseguiu adotar com relativo sucesso".

Carga 

O aeroporto também tentou seguir a vocação de terminal de cargas, para escoar a produção das indústrias do Vale e região. Não vingou. "Os aeroportos de Guarulhos e Viracopos (Campinas) têm muita oferta de voos de carga. Teve uma época que se chegou a fazer o translado da carga do Vale para Guarulhos ou Viracopos de graça. Em São José, havia uma oferta de voos muito pequena, uma vez por semana. Então as indústrias do Vale e região continuaram utilizando os terminais de carga de Guarulhos e Viracopos pela maior oferta de voos", observa o professor.

Cláudio lamenta ver o terminal parado. "É uma pena ver uma instalação tão interessante como a que existe hoje e que vai voltar a ficar ociosa. Esse compartilhamento com a indústria e com o próprio setor militar é difícil de prosperar. Eu vejo num futuro, quando a economia melhorar, que uma rota natural seria para o Rio de Janeiro. Essa é a grande ligação regional", conclui.

Subsídio 

O Programa de Desenvolvimento da Aviação Regional, do Governo Federal, que prevê um subsídio às companhias aéreas para custear até 60 passageiros transportados em voos regionais, está parado. O incentivo, que quando aprovado deve iniciar pela Amazônia e depois se estender por todo o interior do Brasil, pode ajudar a incentivar a aviação regional.

Para o coordenador do Gedesp (Grupo de Estudos do Desenvolvimento Econômico Social e Político), de São José dos Campos, Ivair de Paula, um dos problemas é o custo das passagens em São José. "As empresas aéreas deveriam ter uma política de preços diferenciada em São José para atrair moradores do Vale e Sul de Minas. Fica mais barato ir para Guarulhos, por exemplo, por causa do custo das passagens".